Porque devemos baixar o consumo de sal independentemente da tensão arterial

Escrito originalmente pelo Dr. Michael Greger M.D. FACLM a 28 de Maio de 2019.Publicado originalmente aquiTraduzido e adaptado por João Madureira.

Crédito da imagem: Marta Cuesta / Pixabay

Se colocarmos as pessoas numa alimentação com baixo teor de sal, em que apenas obtêm o dobro do sal de que precisam, por oposição à alimentação típica em que consomem 5 vezes mais, obtém-se uma melhoria significativa na função arterial [a capacidade de as artérias se dilatarem]. Menos sal gera uma melhor função arterial melhor, sugerindo que há efeitos cardio-protectivos para além de apenas reduzir a tensão arterial. Ora, isto aconteceu depois de diminuir apenas uma colher de chá a ingestão de sal por dia durante duas semanas. E de baixássemos a ingestão de sal por apenas meia colher de chá por dia? Continuamos a obter uma melhoria significativa na função arterial, e isso acontece dentro de apenas dois dias depois de reduzir a ingestão de sal — ou, mesmo apenas uma única refeição. Uma refeição com alto teor de sal, o que quer dizer apenas “a quantidade normal de sal consumida numa refeição normal, pode suprimir significativamente [a função arterial] dentro de 30 [minutos].” No meu vídeo, Sódio e função arterial: as-Sal-to ao nosso endotélio, em que se baseia este artigo, mostro o que acontece 30, 60, 90, e 120 minutos depois de consumir uma refeição com muito pouco sal versus comer a mesma refeição, mas com um quarto de colher de chá de sal: uma supressão significativa da função arterial. Ora, isto será para além do aumento da tensão arterial devido ao sal ou por causa do aumento na tensão arterial?

Se pegarmos em pessoas com tensão arterial normal e lhes dermos uma tigela de sopa contendo a quantidade de sal que uma refeição normal pode conter, a sua tensão arterial sobe nas três horas seguintes, em comparação com a mesma sopa sem sal adicionado. Ora, isto não acontece com toda a gente; é apenas uma resposta média. Algumas pessoas são resistentes aos efeitos do sal na sua tensão arterial. Então e se repetirmos o teste da função arterial neles? O resultado está explícito no título de um artigo científico chamado: “Alta ingestão de sódio alimentar prejudica a dilatação dependente do endotélio em humanos saudáveis resistentes ao sal”. De facto, mesmo as pessoas cuja tensão arterial não responde à ingestão de sal, continuam a sofrer uma supressão significativa da sua função arterial. Portanto, independentemente de quaisquer efeitos na tensão arterial, o sal prejudica as nossas artérias, e esse dano começa poucos minutos depois do consumo, para as nossas artérias e até para os nossos minúsculos vasos capilares.

Com a utilização de algo chamado fluxometria Doppler, podemos medir a fluxo sanguíneo nos minúsculos vasos da nossa pele. No vídeo, podemos ver a medida do fluxo sanguíneo no início da experiência. Para conseguir que os vasos sanguíneos se abram, aqueceram a pele. A razão porque ficamos cor-de-rosa quando entramos num banho quente é que os vasos sanguíneos da pele se estão a dilatar, e foi isso que aconteceu: um grande aumento no fluxo sanguíneo com o aquecimento. No entanto, isso ocorreu na alimentação com baixo teor de sal. Uma alimentação com alto teor de sal também começa assim, mas após o mesmo aquecimento há significativamente menos fluxo sanguíneo. As artérias parecem simplesmente não dilatar tão bem numa alimentação rica em sal, a não ser que injectemos vitamina C na pele. Isso parece reverter a supressão, induzida pelo sal, da função dos capilares. Portanto se um anti-oxidante reverte o efeito do sal, então a forma pela qual o sal pode danificar a nossa função arterial poderá ser através do stress oxidativo, ou seja, a formação de radicais livres no nosso fluxo sanguíneo. Mas, como?

Há uma enzima no nosso corpo que pode desintoxicar um milhão de radicais livres por segundo (!), 24 horas por dia, 7 dias por semana. Mas, comparado com uma alimentação pobre em sal, se consumirmos uma alimentação com teor de sal “normal”, suprimimos a actividade desta enzima tão poderosa. Isso poderá explicar porque a nossa função arterial fica tão debilitada na presença de sal. Quando a nossa enzima antioxidante está prejudicada pelo sal, todo o excesso de radicais livres pode danificar as nossas artérias. No entanto, se absorvermos todos esses radicais livres em excesso, através da injeção de vitamina C na corrente sanguínea, a função arterial volta ao normal. Em contraste, numa alimentação pobre em sal, se injectarmos vitamina C nas veias das pessoas, nada acontece porque as nossas enzimas antioxidantes já estão a funcionar correctamente e não foram abaladas pelo sódio de uma alimentação com teor “normal” de sal. 

Enquanto o potássio, concentrado em frutos e vegetais, amolece as células do revestimento das nossas artérias e aumenta a libertação de óxido nítrico que permite que as nossas artérias relaxem, o sódio no sangue endurece o revestimento das artérias dentro de poucos minutos, e reduz a libertação de óxido nítrico. Quanto mais sal, menos óxido nítrico é produzido. Se consumirmos uma refeição salgada, não só a nossa tensão arterial sobe, mas as nossas artérias endurecem literalmente. É por isso que pudemos perceber há 4 mil anos que demasiado sal era mau para nós. Talvez não precisemos de um estudo duplo-cego. Talvez não precisemos de seguir as pessoas durante uma década. Talvez precisemos apenas de alimentar alguém com um pacote de batatas fritas e medir a sua tensão.

(todos os vídeos abaixo indicados dispõem de legendas em português disponíveis nas opções do vídeo)

O meu vídeo, Sódio e função arterial: as-sal-to ao nosso endotélio é parte de uma série de vídeos sobre o sódio, que tentam perceber a “controvérsia” criada pelas indústrias dos alimentos processados. Vejam os outros vídeos:
Outros vídeos de interesse, relacionados com o sal, incluem:
Falei também sobre o potássio em Prevenir AVCs com a alimentação e Baixando o nosso rácio sódio-para-potássio para reduzir o risco de AVC, e estou à espera de fazer uma série de vídeos sobre esse mineral quando tiver oportunidade.

Pela sua saúde,
Michael Greger, M.D.


PS: Se ainda não o fez, pode subscrever os meus vídeos gratuitos aqui e ver a última apresentação de final de ano:
Artigo traduzido e adaptado por João Madureira. Lê o livro do Dr. Greger, "Como Não Morrer" (PT) ou "Comer Para Não Morrer" (BR). Em Portugal está também disponível um livro de receitas, também chamado "Como Não Morrer"

Conhece os 12 alimentos a consumir diariamente ou segue-nos e fala connosco na nossa página do Facebook.  Vê também o nosso grupo de discussão.

Comentários

Mensagens populares deste blogue

A Dúzia Diária

O Arroz Preto e o Vermelho são melhores que o Arroz Castanho (“integral”), que por sua vez é mais Saudável que o Arroz Branco

A Resposta a um Mistério do Cancro Colorretal