O papel dos pesticidas na Doença de Parkinson
Escrito originalmente pelo Dr. Michael Greger M.D. FACLM a
9 de Maio de 2019. Publicado originalmente aqui. Traduzido e adaptado por João Madureira.
Crédito da imagem: Dano / Flickr.
Na descrição original da doença de Parkinson feita pelo próprio Dr. James
Parkinson, ele descreveu uma característica fundamental da doença: prisão-de-ventre,
que pode preceder o diagnóstico por muitos anos. De facto, a frequência das
defecações pode ser
preditiva da doença. Os homens com menos de uma defecação por dia tinham quatro
vezes mais hipóteses de virem a desenvolver Doença de Parkinson 12 anos depois.
No entanto, isto pode ser simplesmente um sintoma muito inicial da doença,
ligado a uma ingestão de água diminuída. Muitos pacientes de Doença de Parkinson
relatam nunca
se sentirem com muita sede, e talvez isso tenha levado à prisão-de-ventre. “Em
alternativa, pode-se especular que a prisão-de-ventre também aumenta
o risco de Doença de Parkinson, pois a prisão-de-ventre resulta numa permanência
maior das fezes nos intestinos e portanto maior absorção de neurotóxicos”, ou
neurotoxinas de origem alimentar.
Dois estudos sugerem uma associação entre prisão-de-ventre e Doença de Parkinson,
mas ao mesmo tempo, neste momento mais de 100 estudos relacionam
os pesticidas com um risco aumentado de até 80%.
Muitos desses estudos são
relativos a exposição ocupacional, como aquela sentida pelos trabalhadores
agrícolas, que podem reduzir o seu risco de Doença de Parkinson usando luvas e
lavando as suas roupas, mas a Doença de Parkinson também foi relacionada
com exposição ambiental. Nos EUA, onde cerca de 500 milhões de kg de pesticidas
são aplicados todos os anos, apenas residir ou trabalhar em áreas com muita
aplicação de pesticidas pode aumentar o risco de Doença de Parkinson. É o mesmo
com os pesticidas de uso caseiro. Nunca me tinha apercebido de como o seu uso
em casas era tão comum, e um estudo da UCLA sugere
que poderá não ser muito boa ideia.
Os pesticidas podem causar mutações no DNA que aumentam a susceptibilidade à
Doença de Parkinson ou ter um papel mais direto. Muitas doenças
neurodegenerativas parecem ser causadas pela acumulação de proteínas mal
dobradas. Na Alzheimer, é a proteína beta-amiloide; na Creutzfeldt-Jakob e na
doença das vacas loucas, são os prions; na Huntington, é uma proteína diferente;
e na Parkinson, é uma proteína chamada alfa-sinucleína. Vários pesticidas — 8
de 12 testados pelos pesquisadores — foram capazes de desencadear uma acumulação
de sinucleína em neurónios humanos, pelo menos numa placa de Petri, mas no
entanto o estudo foi entretanto desacreditado, portanto é pouco claro o que os
resultados realmente mostravam.
A acumulação de sinucleína pode desempenhar
um papel em matar neurónios cerebrais especializados, dos quais 70% podem já
ter desaparecido quando os primeiros sintomas se notam. Os pesticidas são tão
bons a matar estes neurónios que os pesquisadores usam-nos para
tentar provocar doença de Parkinson em animais. Haverá alguma forma de parar
com o processo? Quando este artigo foi escrito, não existiam fármacos capazes
de prevenir
esta agregação de proteínas. E que tal os fitonutrientes flavonóides, compostos
naturais encontrados em certos frutos e vegetais? Os flavonóides podem
atravessar a barreira sangue-cérebro e podem ter efeitos neuroprotectivos,
portanto os pesquisadores testaram 48 compostos vegetais diferentes para ver se
algum conseguia parar a acumulação de proteínas sinucleínas em pequenas fibras
que entopem as células. E, de facto, encontraram diversos flavonóides que não
só inibem a formação em “teias de aranha” das fibras de sinucleína, mas que até
as podem destruir. Parece que os flavonóides podem na realidade ligar-se
às proteínas sinucleínas e estabilizá-las.
No meu vídeo Frutos Silvestres vs. Pesticidas na Doença de Parkinson, pode-se ver
neurónios saudáveis e as suas neurites, os braços com que comunicam uns com os
outros. No entanto, após exposição a um pesticida, pode-se ver como a célula
fica danificada e os braços se retraem. Porém, se primeiro forem incubados com
um extrato de mirtilos, os neurónios parecem poder resistir melhor aos efeitos
dos pesticidas. Portanto, isto implica que os flavonóides na nossa alimentação
podem estar a combater a doença de Parkinson neste preciso momento, e uma
alimentação saudável pode ser eficaz em prevenir e até mesmo tratar a doença.
No entanto, estes resultados foram todos num laboratório. Há alguma evidência
de que as pessoas que comem frutos
silvestres estão protegidos da Doença de Parkinson ?
Um estudo publicado há bastante tempo sugeriu
que o consumo de mirtilos e morangos era protector, mas foi um estudo muito
pequeno e os seus resultados não foram estatisticamente significativos. No
entanto, isso era o melhor que tínhamos… até agora. Num estudo mais recente, as
pessoas que comiam diversos fitonutrientes tinham menos probabilidade de
desenvolver a Doença de Parkinson. Especificamente, uma maior ingestão de
frutos vermelhos esteve associada com um risco significativamente menor. O
editorial que acompanhou o estudo, “Uma Maçã por Dia para Prevenir a Doença de
Parkinson”, concluiu que é necessária mais pesquisa, mas que, até essa
altura “comer uma maçã por dia pode ser uma boa ideia”. As maçãs pareceram
mais protectoras contra a Parkinson nos homens do que nas mulheres. No entanto,
todos pareceram beneficiar dos frutos silvestres.
No entanto, talvez seja melhor não consumir os nossos frutos silvestres com
natas, pois o leite pode estar contaminado
com os mesmos tipos de resíduos de pesticidas neurotóxicos encontrados nos
cérebros das vítimas da Doença de Parkinson.
Produzi outros vídeos sobre a Doença de Parkinson, incluindo:
- Prevenindo a Doença de Parkinson com a Alimentação
- Tratando a Doença de Parkinson com a Alimentação
- Existirá algo no tabaco que seja protector em relação
à Doença de Parkinson?
- Pimentões e Parkinson’s: os benefícios de fumar sem
os riscos?
- Poderá a lactose explicar a ligação entre leite e
doença de Parkinson Lactose?
- A doença de Parkinson e o nível ideal de ácido úrico
Sabe mais sobre outros problemas neurológico-musculares, incluindo tremor
essencial e esclerose lateral amiotrófica (ELA):
- Tremor essencial e a alimentação
- ELA (Doença de Lou Gehrig): Procurando respostas no
peixe
- Alimentação e Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA)
A razão que pode estar por trás da ligação de Parkinson’s com
prisão-de-ventre pode também explicar a sua ligação ao câncer de mama. Para
saberes mais, vê o meu vídeo Câncer de mama e prisão-de-ventre.
Que mais podem os frutos silvestres fazer?
- Poderá o suco de cranberry (arando) tratar infecções
da bexiga?
- Reduzindo as dores musculares pós-exercício com
frutos silvestres.
- Melhorando a actividade das Células Exterminadoras
Naturais
- Como abrandar o envelhecimento do cérebro por 2 anos
- Inibindo a agregação de plaquetas com frutos
silvestres
- Os benefícios de Açaí vs. Morangos para a função
arterial
- Framboesas Negras vs. Câncer Oral
- Estudos clínicos com bagas de Açaí
E quanto a todo o açúcar da fruta? Vê os meus vídeos Se a frutose é má, e quanto à fruta? e Quanta fruta é demasiado?.
Pela sua saúde,
Michael Greger, M.D.
PS: Se ainda não o fez, pode subscrever os meus vídeos gratuitos aqui e ver a última apresentação de final de ano:
- 2016: Como Não Morrer: O Papel da Alimentação na Prevenção, Paragem, e Reversão das Nossas 15 Doenças Mais Mortais. (legendas disponíveis nas opções do filme)
Artigo traduzido e adaptado por João Madureira. Lê o livro do Dr. Greger, "Como Não Morrer" (PT) ou "Comer Para Não Morrer" (BR). Em Portugal está também disponível um livro de receitas, também chamado "Como Não Morrer"
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