Passar de Nutrição Adequada a Nutrição Óptima
Escrito originalmente pelo Dr. Michael Greger M.D. FACLM a
12 de Março de 2019. Publicado originalmente aqui. Traduzido e adaptado por João Madureira.
Crédito da imagem: Kristina DeMuth.
A pesquisa em nutrição nas últimas 4 décadas levou
a muitas descobertas, assim como a um entendimento abrangente dos mecanismos
exactos pelos quais os nutrientes dos alimentos afectam os nossos corpos. No entanto,
como discuto no meu vídeo Reducionismo e a mentalidade da deficiência, a “prevalência
de epidemias de doenças crónicas relacionadas com alimentação, especialmente a
obesidade, a diabetes tipo 2, a osteoporose, doenças cardiovasculares, e
cancros, aumentaram drasticamente em todo o mundo, a cada ano.” Por que razão
este conhecimento detalhado não se traduziu em melhorias na saúde pública?
Talvez tenha a ver com toda a nossa filosofia de nutrição chamada reducionismo, em que tudo é decomposto
nos seus elementos constituintes; a comida é reduzida a uma coleção de
compostos únicos com efeitos supostamente únicos. “A abordagem reducionista tem
sido e continua
a ser hoje a abordagem dominante na pesquisa sobre nutrição.”
Já sabemos que 75% do risco de doença crónica –– diabetes, ataques
cardíacos, acidentes vasculares cerebrais, e cancro — poderia ser eliminado
se toda a gente seguisse 4 práticas simples: não fumar, não ser obeso, fazer
meia hora de exercício por dia, e comer uma alimentação mais saudável, definida
como sendo mais frutos, vegetais, e cereais integrais, e menos carne. Pensa no
que isso significa em termos de custos humanos. Já sabemos o suficiente para
salvar milhões de vidas. Então, não deveriam os nossos esforços ser gastos na
implementação destas mudanças antes de se gastar mais um dólar em pesquisas
como, por exemplo, perceber se um extracto de pele de uva pode baixar o
colesterol em peixes zebra ou mesmo tentar perceber se alimentos integrais conseguem fazer
o mesmo? Para quê gastar dólares dos contribuintes entupindo as artérias de peixes
com uma alimentação rica em colesterol para ver se as folhas e flores do
espinheiro-branco têm o potencial para os ajudar? Mesmo que o fizessem e mesmo
que isso também funcionasse em pessoas, não seria melhor simplesmente não
entupir as nossas artérias em primeiro lugar? Esta diminuição drástica do risco
e o aumento dos anos de vida saudável não precisam de envolver superalimentos
ou extratos herbais ou suplementos — apenas comer de forma mais saudável. Quando
Hipócrates supostamente disse,
“Deixa que os alimentos sejam os teus remédios e que os remédios sejam os teus
alimentos”, ele “não quis dizer que os alimentos são fármacos, mas antes, que a
melhor maneira de permanecer em boa saúde é manter uma alimentação saudável.” (Nota:
Hipócrates provavelmente nunca disse realmente isso — mas é um óptimo lema de
qualquer forma!)
A atitude histórica no campo da nutrição, no entanto, pode ser resumida da melhor forma pela frase “Come o que queres depois
de comeres o que deves”. Por outras palavras come seja lá o que for que queiras
desde que obtenhas as tuas vitaminas e minerais. Esta mentalidade é
exemplificada pelos cereais de pequeno-almoço, que muitas vezes fornecem
dezenas de vitaminas e minerais. Mas o caminho para a saúde não é feita de
Coca-Cola mais vitaminas e minerais. Esta abordagem reducionista “é boa
para a indústria alimentar mas não realmente boa para a saúde humana” Porque
não? Bem, se o valor de um alimento consiste em ter só alguns nutrientes, então
os fabricantes poderão vender algo como Twinkies (bolos) fortificados com
vitaminas.
Precisamos de mudar
do conceito de meramente obter nutrição
adequada para obter nutrição óptima.
Isto é, não devemos apenas tentar impedir o escorbuto, mas devemos promover a
saúde e minimizar o nosso risco de desenvolver doenças degenerativas.
Reduzir as coisas aos seus componentes moleculares resulta
para o desenvolvimento de fármacos, e para a descoberta de todas as vitaminas e
a cura de doenças de deficiência. No entanto, no campo da nutrição, “a
abordagem reducionista começa a chegar aos seus limites.” Já descobrimos
todas as vitaminas há mais de meio-século. Quando foi a última vez que ouviste
falar de alguém com escorbuto, pelagra, ou kwashiorkor, os clássicos síndromas
de deficiência? E que tal quanto às doenças do excesso alimentar: doença
cardíaca, diabetes, obesidade e hipertensão? Já ouviste falar de alguém com
algum destes? Claro que já todos ouvimos. E no entanto continuamos a ter esta
mentalidade da deficiência no que diz respeito à nutrição.
Quando alguém tenta reduzir o seu consumo de carne, porque é que “onde vais tu buscar a proteína?” é
a primeira pergunta que lhe é feita, em vez de “se começares a comer assim, onde é que vais buscar a tua doença
cardíaca?” A mesma mentalidade de deficiência levou
à emergência da indústria de muitos biliões de dólares dos suplementos. E que
tal uma multivitamina diária só como um “seguro” contra deficiências
alimentares?” O melhor seguro seria simplesmente comer comida saudável.
O Professor Emérito T. Colin Campbell escreveu um livro só sobre este assunto, e espero ainda fazer muitos
vídeos sobre o assunto.
[todos os vídeos abaixo indicados têm legendas em português disponíveis nas opções]
Então, onde é que os vegetarianos obtêm proteína? Vê Os vegetarianos obtêm proteína suficiente? para saber
mais.
O conceito de nutrição óptima, em vez de adequada, é bem ilustrada neste
vídeo sobre fibra: Perder um quilo de uma só vez: seguindo o caminho do Miocénico.
Outros vídeos sobre reducionismo incluem:
- Antioxidantes alimentares e cancro (câncer)
- Tratar a asma com plantas vs. suplementos?
- Brócolos: rebentos vs. suplementos
- Resposta da indústria a “plantas, não comprimidos”
- A teoria da fibra estará errada?
- Sinergia
alimentar
- Choque de culturas: questionando a eficácia e
segurança dos probióticos
- Suplementos de licopeno vs. cancro (câncer) de próstata
Com saúde
Michael Greger, M.D.
PS: Se ainda não o fez, pode subscrever os meus vídeos gratuitos aqui e ver a última apresentação de final de ano:
- 2016: Como Não Morrer: O Papel da Alimentação na Prevenção, Paragem, e Reversão das Nossas 15 Doenças Mais Mortais. (legendas disponíveis nas opções do filme)
Artigo traduzido por João Madureira. Lê o livro do Dr. Greger, "Como Não Morrer" (PT) ou "Comer Para Não Morrer" (BR). Em Portugal está também disponível um livro de receitas, também chamado "Como Não Morrer"
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