Comer da forma mais natural para nós


Originalmente escrito pelo Dr. Michael Greger M.D. FACLM em 5 de Março de 2019. Publicado originalmente aquiTraduzido e adaptado por João Madureira.

Crédito da imagem: Vasilisa-Malinina / Pixabay.

O período Paleolítico, também conhecido como a Idade da Pedra, vai apenas até aos últimos 2 milhões de anos. Os humanos e os outros grandes símios têm evoluído durante os últimos 20 milhões de anos, começando na era do Miocénico. Ouvimos falar muito sobre a dieta paleolítica, mas apenas representa os últimos 10% da evolução dos hominídeos. E quanto aos primeiros 90%?

Durante a era do Miocénico, “é consensual que a alimentação era baseada em plantas e rica em fibras…” Durante a maior parte da evolução da nossa família, comíamos o que o resto dos nossos primos símios comem — folhas, caules, e rebentos, (ou por outras palavras, vegetais), assim como frutas, sementes, e frutos secos. Exploro isto no meu vídeo Perder um quilo de uma só vez: Seguindo o caminho do Miocénico.

“Anatomicamente, os tratos digestivos dos humanos e dos grandes símios são muito semelhantes.” De facto, o nosso ADN é muito semelhante. Então que comem os nossos primos, os grandes símios? São principalmente vegetarianos com alto consumo de verduras e fruta. Apenas principalmente vegetarianos? É certo que se sabe que os chimpanzés caçam, matam e comem presas, mas a sua “ingestão de alimentos de origem animal fica num nível muito baixo…. Apenas cerca de 1,7% das fezes dos chimpanzés fornecem evidência de consumo de alimentos de origem animal.” Isto é baseado em oito anos de trabalho que recolheu cerca de 2.000 amostras fecais. Portanto, mesmo os mais carnívoros dos grandes símios parecem fazer uma alimentação 98% vegetal. De facto, podemos estar mais próximos da alimentação dos bonobos, um dos grandes símios menos conhecidos, que se alimentam quase exclusivamente de vegetais.

Mesmo os nossos antepassados caçadores-recolectores do Paleolítico deviam fazer bastante recoleção para obter os mais de 100 g de fibra por dia que devem ter consumido. O que aconteceria se os pesquisadores colocassem pessoas na verdadeira alimentação do Paleolítico? Não a dieta-paleo-da-revista-no-corredor-do-pagamento-do-supermercado nem a dieta de algum blogger das cavernas, mas uma verdadeira alimentação de 100-g-por-dia-de-fibra, ou ainda melhor, uma dieta miocénica tomando em consideração os últimos 20 milhões de anos de evolução desde que nos separámos nos nossos antepassados que temos em comum com os grandes símios.

O Dr. David Jenkins e os colegas tentaram e “testaram os efeitos de uma alimentação muito rica em fibra”. Quanto? Estamos a falar de 150 g de fibra diária, muito mais do que as recomendadas 20 a 30 g por dia. No entanto, 150 g é semelhante ao que as populações na África rural costumavam comer — populações quase totalmente livres de muitas das nossas doenças crónicas mais mortais, como cancro do cólon e doença cardíaca.

A alimentação rica em fibras não brincou em serviço. Ao almoço, por exemplo, poderia haver couves de bruxelas, quiabos, ervilhas verdes, cogumelos, avelãs e uma ameixa. E ao jantar? Que tal espargos, brócolos, beringelas, cenouras e melão? Seguramente comer apenas muitos frutos, vegetais e frutos secos não pode ser muito saciante, certo? Na realidade obteve o máximo de sensação de saciedade em cada uma das 10 pessoas estudadas, ao contrário das dietas baseadas em amido e com baixo teor de gordura que pontuaram menos. Porquê? “Todas as dietas foram desenhadas para manter o peso”, o que significa que os pesquisadores não queriam que a perda de peso confundisse os resultados. Então, para obter as calorias de um dia inteiro de alimentos vegetais integrais, as pessoas tiveram de comer 5 kg de alimentos por dia! Sem surpresa, isto resultou em algumas das maiores defecações já registadas na literatura médica, com os homens na dieta vegetal rica em fibra a exceder 1 kg de matéria fecal por dia.

Esse não foi o único recorde: ocorreu uma queda de 33% no colesterol LDL dentro de duas semanas. Mesmo sem qualquer perda de peso, os níveis do colesterol mau desceram 1/3 em duas semanas. Isso é uma das maiores diminuições já vista numa intervenção alimentar — melhor do que a registada numa alimentação vegetariana baseada em amido ou uma alimentação vegetariana pobre em gordura saturada, parecida com a da Associação Americana do Coração. Isto é o mesmo que “a redução de colesterol equivalente à dose terapêutica de um fármaco para o colesterol (ou estatina)”.

Temos comido 100 g de fibra todos os dias durante milhões de anos. A nossa alimentação é semelhante à que é ingerida por populações que não sofrem das nossas doenças crónicas. Talvez não se devesse designar como “uma alimentação muito rica em fibra”. Talvez a alimentação típica atual devesse ser considerada uma alimentação muito pobre e deficiente em fibra.

Talvez seja normal comer 100 g de fibra por dia. Talvez seja normal estar livre de doença cardíaca. Talvez seja normal estar livre de prisão de ventre, hemorroidas, diverticulites, apendicites, cancro do cólon, obesidade, diabetes tipo 2, e de todas as principais doenças da civilização ocidental.


Como sabemos que os nossos antepassados remotos comiam mais de 100 g de fibra por dia? Podemos examinar a sua matéria fecal fossilizada, como discuto no meu vídeo Paleococó: o que podemos aprender com as fezes fossilizadas.

Para mais evidências sobre o que é a nossa alimentação natural, vê: O que é a alimentação humana natural? .

Outros vídeos populares sobre o assunto do paleo incluem:
Estás excitado por partilhar o que aprendeste sobre a alimentação? Bem, na realidade podes partilhar mais do que apenas vídeos. Vê: Como tornar-se um super dador de transplantes de fezes.

Com saúde
Michael Greger, M.D.


PS: Se ainda não o fez, pode subscrever os meus vídeos gratuitos aqui e ver a última apresentação de final de ano:
Artigo traduzido por João Madureira. Lê o livro do Dr. Greger, "Como Não Morrer" (PT) ou "Comer Para Não Morrer" (BR). Em Portugal está também disponível um livro de receitas, também chamado "Como Não Morrer"

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