Curcumina do Açafrão-da-Índia testado em relação à Doença Inflamatória Intestinal

Escrito originalmente pelo Dr. Michael Greger M.D. FACLM a 26 de Fevereiro de 2019. Publicado originalmente aquiTraduzido e adaptado por João Madureira.


Crédito da imagem: Pixabay

O meu vídeo Atacar com a raíz: Curcumina do açafrão-da-índia e colite ulcerosa conta a história de como esta incrível descoberta foi feita, e de como a curcumina se compara com intervenções farmacológicas.

[A curcuma, açafrão-das-índias, ou açafrão-da-terra é o componente amarelo do caril indiano. Em Portugal, para além de estar disponível fresco em lojas de saúde natural com o nome de “curcuma”, é frequente estar também disponível em pó na secção de especiarias do super-mercado com o nome erróneo de “açafrão”. A forma fresca é mais saudável, mas é preciso ter cuidado para não manchar a roupa e as superfícies. Não se deve confundir com a especiaria que mais corretamente se chama de açafrão, que é vermelha, mais rara e mais cara.]

Apesar de evidências com 40 anos de que o componente curcumina da especiaria curcuma possui actividade anti-inflamatória significativa, apenas em 2005 foi testada em relação à doença inflamatória intestinal. Porque demorou tanto tempo? Bem, quem vai financiar um tal estudo? A Grande Indústria do Caril? Mesmo sem o apoio empresarial, médicos individuais de Nova Iorque decidiram pedir a 5 pacientes com colite ulcerosa que passassem a tomar suplementos de curcumina.

“A colite ulcerosa é uma doença inflamatória intestinal, debilitante, crónica, que aparece e desaparece durante períodos alternados, que aflige milhões de indivíduos em todo o mundo e produz sintomas que prejudicam a qualidade de vida e a capacidade de funcionar.” Tal como com a maioria das doenças, existem vários fármacos para tratar as pessoas, mas normalmente esses medicamentos podem trazer complicações, mais frequentemente náuseas, vómitos, dores-de-cabeça, pele inflamada, febre, e inflamação do fígado, pâncreas, e rins, para além de potencialmente poder debilitar muito o sistema imunitário e causar infertilidade. A maior parte dos pacientes com colite ulcerosa precisa de tomar medicamentos todos os dias do resto das suas vidas, portanto precisamos de algo seguro que mantenha a doença sob controle.

Então o que aconteceu aos cinco pacientes que tomaram o extracto da especiaria? Em geral, todos os cinco pacientes melhoraram no fim do estudo, e quatro dos cinco foram capazes de diminuir ou eliminar as suas medicações. Tinham “fezes mais bem formadas, defecações menos frequentes, e menos dores e cãibras abdominais. Um dos sujeitos relatou menos fadiga muscular, normalmente sentida após a sua rotina de exercícios”. No entanto, isto foi o que se chama um estudo aberto, o que significa que os pacientes sabiam que estavam a tomar algo e portanto parte das melhoras poderá ter-se devido apenas ao efeito placebo. Em 2013, outro pequeno estudo aberto verificou resultados encorajadores numa população pediátrica, mas o que era preciso era um ensaio maior, com dupla ocultação (duplo-cego) e controlado por placebo.

E foi o que os pesquisadores fizeram. Estudaram um grupo de pessoas com colite ulcerosa na fase de menos actividade, e deram-lhes curcumina além de fármacos típicos anti-inflamatórios, ou um placebo juntamente com os medicamentos. No grupo do placebo, 8 de 39 pacientes tiveram recaídas da doença. No entanto, no grupo da curcumina, apenas 2 de 43 tiveram uma recaída, significativamente menos. E, com recaída ou sem ela, em termos clínicos, o grupo do placebo ficou pior, enquanto o grupo da curcumina ficou melhor. Através de uma endoscopia, ou seja visualizando diretamente o interior dos seus cólons, os médicos observaram a mesma coisa: tendências para piorar ou melhorar.

Os resultados foram espantosos: uma taxa de recaída de 5% no grupo da curcumina, comparado com 20% no grupo do tratamento convencional. Foi uma diferença tão drástica que os pesquisadores perguntaram-se se foi alguma espécie de acaso. Apesar de os pacientes terem sido aleatoriamente distribuídos para cada grupo, talvez o grupo da curcumina tenha acabado por ficar muito mais saudável devido a alguma coincidência acidental, portanto talvez fosse isso, ao invés dos efeitos da curcumina, que explicaria os resultados? Então, os pesquisadores prolongaram o estudo por mais seis meses mas colocaram todos os pacientes no placebo para ter a certeza que os resultados iniciais não tinham sido alguma aberração estatística. Pararam a ingestão de curcumina para ver se esse grupo começava a ter recaídas também — e foi exatamente isso que aconteceu. Subitamente, ficaram tão mal como no grupo original do placebo.

Os pesquisadores concluíram: “A curcumina parece ser um medicamento promissor e seguro para manter a remissão em pacientes com colite ulcerativa quiescente” De facto, não houve quaisquer efeitos secundários reportados. Portanto “Caril para a cura?” foi o que questionou um editorial da revista da Fundação de Doença de Crohn e Colite dos EUA. “Será que a curcumina pode ser acrescentada à nossa lista de opções para manter a remissão na colite ulcerosa? O que é digno de nota sobre este estudo é o facto de que não só os autores demonstraram uma diminuição estatisticamente significativa na recaída aos 6 meses, mas também uma redução estatisticamente significativa do índice endoscópico. Igualmente revelador é o facto de que, ao ser retirada a curcumina, a taxa de recaída ficou rapidamente parecida à dos pacientes tratados inicialmente com o placebo, implicando que a curcumina exercia, realmente, algum efeito biológico importante”.

De modo semelhante, uma revisão Cochrane concluiu em 2013 que a curcumina pode ser uma terapia adjuvante segura e eficaz. As revisões Cochrane pegam em todos os melhores estudos que cumprem rigorosos critérios de qualidade e compilam-nos, o que é normalmente um trabalho gigantesco. No entanto, não neste caso, pois existe apenas realmente este único estudo com valor.


A curcuma é um dos tópicos mais populares, e encorajo-te a espreitar o vídeos mais populares sobre este tópico, incluindo: 
Para saberes mais sobre colite ulcerosa e doença inflamatória intestinal, vê:
Com saúde
Michael Greger, M.D.

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Artigo traduzido por João Madureira. Lê o livro do Dr. Greger, "Como Não Morrer" (PT) ou "Comer Para Não Morrer" (BR). Em Portugal está também disponível um livro de receitas, também chamado "Como Não Morrer"

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