O Vinagre é Saudável

Escrito originalmente pelo Dr. Michael Greger M.D. FACLM a 8 de Janeiro de 2019. Publicado originalmente aqui. Traduzido e adaptado por João Madureira.

Crédito da imagem: Mike Mozart / Flickr.

Há evidências de que o vinagre tem sido usado como uma ajuda para perder peso desde há 200 anos. Tal como os molhos picantes, pode ser uma forma sem calorias de dar sabor às comidas, e há todo o género de vinagres deliciosos e exóticos — como figo, pêssego, e romã — que podem ser escolhidos. A questão, no entanto, é se existe alguma coisa especial em relação ao vinagre que ajuda na perda de peso, o que é o tópico do meu vídeo O vinagre de cidra de maçã ajuda a perder peso?.

O vinagre pode definir-se como uma solução diluída de ácido acético, o qual necessita de energia do corpo para metabolizar, através da activação de uma enzima chamada AMPK que é como o “indicador de nível de combustível” do corpo. Se sente que estamos sem energia, amplifica a produção de energia e diz ao corpo para parar de armazenar gordura e começar a queimar gordura. E portanto, dada a nossa epidemia de obesidade, “é crucial que compostos para ingestão oral com elevada biodisponibilidade sejam desenvolvidos para induzir de forma segura uma activação crónica de AMPK”, o que seria proveitoso para a perda de peso a longo termo. No entanto, não há necessidade de criar esse composto, pois pode ser comprado em qualquer mercearia.

Sabemos que o vinagre pode activar o AMPK em células humanas, mas será na dose que podemos obter do tempero de uma salada? Se retirarmos células endoteliais (as células que revestem os nossos vasos sanguíneos) a partir de cordões umbilicais, quando os bebés nascem, e as expusermos a vários níveis de acetato, que é aquilo em que o ácido acético se transforma dentro do nosso estômago, parece ser necessária uma concentração de pelo menos 100 para ter um salto significativo no AMPK. Então quanto acetato obtemos na nossa corrente sanguínea usando uma quantidade de vinagre usada para temperar (uma colher de sopa)? Chegamos aos 100, mas apenas dura cerca de 15 minutos, e mesmo nessa concentração, a exposição por 10 ou 20 minutos não parece fazer muito. Há que ter em conta, no entanto, que isto é numa placa de Petri. O que nos dizem os estudos clínicos?

Um ensaio com dupla ocultação (double-blind) foi realizado para investigar os efeitos da ingestão de vinagre na redução de gordura corporal em homens e mulheres com excesso de peso. Os investigadores chamaram-nos obesos, mas na realidade eram mais magros que o americano médio. No Japão, considera-se que quem tem um IMC acima de 25 é obeso, enquanto que o IMC do adulto americano médio é cerca de 28,6. Seja como for, pegaram em cerca de 150 indivíduos com excesso de peso e dividiram-nos aleatoriamente em três grupos: um de alta dose de vinagre que bebia uma bebida com duas colheres de sopa de vinagre de cidra de maçã por dia; um de baixa dose de vinagre que bebia uma bebida com apenas uma colher de sopa de vinagre de cidra de maçã por dia; e um grupo de placebo que bebeu uma bebida ácida, desenvolvida para ter um paladar semelhantes à bebida de vinagre, mas usando outro tipo de ácido, portanto não havia ácido acético.

Não houve outras mudanças na alimentação ou exercício. De facto, os pesquisadores monitorizaram as suas alimentações e deram-lhes pedómetros para garantirem que a única diferença significativa entre os três grupos era a quantidade de vinagre que obtiam por dia. Dentro de apenas um mês, houve quedas significativas em peso, em ambos os grupos do vinagre comparado com o placebo, com o grupo de dose alta a portar-se melhor que o grupo de baixa dose, e a diminuição de peso continuou mês após mês. De facto, quando chegaram ao terceiro mês, o grupo de placebo na realidade ganhou peso, como tende a acontecer com indivíduos com excesso de peso, enquanto os grupos do vinagre baixaram significativamente o seu peso. A perda de peso foi na realidade significativa ou apenas estatisticamente significativa? Comparado com o grupo de placebo, o grupo das duas colheres de vinagre por dia perdeu 2,3 Kg ao fim das 12 semanas. Isso pode não parecer muito, mas obtiveram isso por meros cêntimos por dia sem retirar nada da sua alimentação.

Também ficaram mais magros, perdendo até 2,5 cm da sua cintura, o que sugere que perderam gordura abdominal. Os pesquisadores deram-se ao trabalho de o colocar à prova. Estudaram os abdómens das pessoas com tomografia computorizada, para medir directamente a quantidade de gordura nos seus corpos antes e depois. Mediram a quantidade de gordura superficial, gordura visceral, e gordura corporal total. A gordura superficial é a gordura debaixo da pele que torna os braços flácidos e que contribui para a celulite. A gordura visceral, por outro lado, é a que mata. É a gordura que se acumula à volta dos órgãos internos e que dá volume à barriga — e o tipo de gordura que o grupo de placebo estava a acumular quando estava a ganhar peso. Ambos os grupos de alta e baixa dose de vinagre, no entanto, conseguiram retirar cerca de 2,5 cm² de gordura visceral dessa “fatia“ de tomografia computorizada.

Como qualquer estratégia para perder peso, só funciona se a praticarmos. Passado um mês de terem parado o vinagre, o peso voltou a subir, mas isso é apenas evidência adicional de que o vinagre estava a funcionar. Mas de que forma funcionou?

Um grupo de investigadores britânicos sugeriu uma explicação: as bebidas de vinagre são desagradáveis. Criaram bebidas de vinagre que eram tão desagradáveis que as pessoas na realidade se sentiam nauseadas após as beber e comiam menos da refeição que os investigadores forneceram. Portanto, aí está: talvez o vinagre ajude quer com o controlo do apetite quer com a ingestão de comida, embora estes efeitos se devam largamente às bebidas de vinagres de fruta que invocavam sensações de náusea. Seria isso que se passava no estudo original? Será que os grupos do vinagre apenas comiam menos? Não, os grupos de vinagre estavam a comer o mesmo em comparação com o grupo de placebo. A mesma alimentação, com mais perda de peso –– graças, talvez, ao impacto do ácido acético no AMPK.

Ora as tomografias computorizadas tornaram este estudo muito caro, portanto não fiquei surpreendido por ser financiado por uma companhia que vende vinagres, o que é bom, pois caso contrário, não teríamos esta informação impressionante, mas também é mau porque nos deixa a perguntarmo-nos se a fonte de financiamento de alguma forma manipulou os resultados. No entanto, a coisa boa sobre companhias que financiam estudos sobre alimentos saudáveis, quer seja alguma companhia de kiwis ou o Concelho Nacional de Promoção da Melancia (vê watermelon.org) é que, na realidade, qual é a pior coisa que pode acontecer? Neste caso, por exemplo, mesmo que os resultados fossem falsos e se desse o pior caso, a tua salada simplesmente teria ficado mais agradável.

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Estou tão excitado por finalmente chegar a este tópico. Se colocarmos “vinagre” no PubMed, o motor de pesquisa da literatura biomédica, cerca de 40.000 estudos aparecem. Demorou-me um bocado a absorver os dados, mas estou muito contente por o ter feito, pois é algo que originou uma mudança na minha alimentação. Agora tento adicionar vários vinagres todos os dias.

Isto é a primeira parte de uma série de 5 vídeos. Vê as restantes:

• Vinagre e função arterial
• O vinagre por ajudar no controlo dos açúcares no sangue?
• A dose óptima de vinagre
• Mecanismos do vinagre e efeitos secundários

Em relação a outras abordagens holísticas para a perda de peso, vê:

• Abordagem densa-em-nutrientes à gestão do peso
• Existem alimentos com calorias negativas?
• Comer mais para pesar menos

Com saúde
Michael Greger, M.D.

PS: Se ainda não o fez, pode subscrever os meus vídeos gratuitos aqui e ver a última apresentação de final de ano:

• 2016: Como Não Morrer: O Papel da Alimentação na Prevenção, Paragem, e Reversão das Nossas 15 Doenças Mais Mortais. (legendas disponíveis nas opções do filme)

Artigo traduzido por João Madureira. Lê o livro do Dr. Greger, "Como Não Morrer" (PT) ou "Comer Para Não Morrer" (BR). Em Portugal está também disponível um livro de receitas, também chamado "Como Não Morrer"

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