Como a Indústria da Carne reagiu aos novos avisos sobre o cancro

Escrito originalmente pelo Dr. Michael Greger M.D. FACLM a 29 de Janeiro de 2019. Publicado originalmente aquiTraduzido e adaptado por João Madureira.

Crédito da imagem: Adobe Stock

Qual foi a resposta da indústria da carne à recomendação das principais organizações que estudam o cancro para parar de comer carnes processadas, como bacon, presunto, cachorros quentes, salsicha, e carnes frias? Como discuti no meu vídeo A resposta da indústria da carne às novas directrizes do cancro, a indústria reconhece que as mais recentes directrizes internacionais sobre prevenção do cancro aconselham vivamente as pessoas a evitar carne processada.

“É evidente que… essa afirmação representa ‘um perigo claro e presente’ para a indústria da carne”, segundo uma resposta publicada no periódico Meat Science. No entanto, continua o texto, a carne processada é “uma necessidade social” (como poderíamos nós viver sem mortadela?) O desafio para a indústria da carne, segundo esse texto, é encontrar uma forma de manter o consumo desses produtos de conveniência e, de alguma forma, não causar danos à saúde pública.

Ainda não temos a certeza do que é tão carcinogénico na carne processada, mas a resposta mais provável envolve o ferro heme, assim como a nitrosamina e formação de radicais livres, resultando em última instância em danos carcinogénicos no ADN. Para reduzir as nitrosaminas, poderia remover-se os nitritos, algo que a indústria tem vindo a considerar durante décadas por causa dos seus efeitos tóxicos, conhecidos desde há muito. A indústria adiciona-os à carne para que mantenha um tom rosado. Há evidentemente, outros corantes disponíveis. Ainda assim, é difícil para a indústria mudar “tendo em vista os efeitos positivos” destas substâncias como preservantes e na obtenção de “um sabor desejável e cor vermelha”. Ninguém quer presunto castanho com ovos… [sem os nitritos, a carne ficaria castanha devido ao efeito de micro-organismos]

É como reduzir o sal nos produtos feitos de carne. A indústria gostaria de reduzi-los, mas “uma das principais barreiras para a substituição do sal é o custo, já que o sal é um nos ingredientes mais baratos”. Certos melhoradores do sabor podem ser injectados na carne para ajudar a compensar a redução do sal, mas algumas deixam depois um sabor amargo na boca. Para resolver isso, a indústria pode injectar um químico patenteado que bloqueie o sabor amargo. Este “bloqueador de amargura é apenas o primeiro do que será uma linha de produtos desenvolvidos pela convergência de tecnologia alimentar e biotecnologia”.

A indústria alimentar poderia também tentar adicionar materiais vegetais à carne, já que a fibra ou o amido resistente têm efeitos protectores contra o cancro. Afinal de contas, nos EUA, há um sub-consumo de fibra alimentar, “indicando que a suplementação com fibra nos produtos alimentares poderia trazer benefícios para a saúde” Mas, claro, são os próprios produtos da indústria alimentar que constituem uma das razões porque a alimentação americana é tão deficiente em fibra.

A indústria é favorável à reformulação dos seus produtos para causar menos cancro, mas “obviamente qualquer optimização tem de alcançar um produto mais saudável sem afectar a qualidade, particularmente os aspectos do prazer sensorial”.

É importante perceber que a qualidade nutricional e qualidade tecnológica [na indústria da carne] estão inversamente correlacionadas. Actualmente, as melhorias num campo levarão à deterioração do outro”. De facto, a indústria da carne sabe que o consumo de banha não é a melhor coisa do mundo — sendo a doença cardiovascular a nossa principal causa de morte — mas esses aspectos negativos “estão em contraste directo com as suas qualidade tecnológicas que os tornam indispensáveis na produção de carnes processadas”. Senão, não se consegue alcançar a mesma “consistência da banha”. A gordura do porco não fica suficientemente dura, e, como resultado, “pode ser observada uma mancha de gordura na superfície da carne” Menos doença cardíaca versus ausência de mancha de gordura? Suponho que temos de pesar os prós e os contras…



(Os vídeos têm legendas em português disponíveis nas opções)

De acordo com a Agência Internacional de Pesquisa sobre o Cancro (IARC) da Organização Mundial de Saúde, a carne processada é um carcinógeno do grupo 1 — a classificação mais alta. Porque é que as escolas ainda as servem às crianças?

Quanto cancro é causado pelas carnes frias? Vê o vídeo para descobrir.

Para mais informação sobre carcinógenos, cancro, e carne, vê:
Céptico sobre os perigos de ingestão excessiva de sódio? Vê A evidência de que o sal aumenta a pressão sanguínea. Se ainda não estiveres convencido, vê Salpicando a dúvida: encarando os céticos do sal com algumas reservas e Os céticos do sódio tentam agitar o debate do sal. Por que razão as indústrias da carne adicionam sal quando milhões de vidas estão em risco? Descobre em A Grande indústria do sal: chegando ao coração do assunto.

Com saúde
Michael Greger, M.D.

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Artigo traduzido por João Madureira. Lê o livro do Dr. Greger, "Como Não Morrer" (PT) ou "Comer Para Não Morrer" (BR). Em Portugal está também disponível um livro de receitas, também chamado "Como Não Morrer"

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