Como reverter a diabetes tipo 2


Escrito originalmente pelo Dr. Michael Greger M.D. FACLM a 20 de Setembro de 2018. Publicado originalmente aquiTraduzido por João Madureira.


Image Credit: Mara Zemgaliete / Adobe Stock

A reversão da diabetes, e não apenas o seu tratamento, deveria ser o objectivo na gestão da diabetes tipo 2. Este tipo de diabetes pode ser revertida com uma dieta muito baixa em calorias, mas também pode ser revertida com uma alimentação extremamente saudável. Será porque uma alimentação extremamente saudável também apresenta poucas calorias? Esse é o tópico do meu vídeo Diabetes Reversal: Is It the Calories or the Food 

As pessoas estudadas perderam tanto peso numa dieta de base vegetal cheia de verduras, como as pessoas que seguiram uma dieta de “fome” baseada em substitutos líquidos. Portanto, será que não importa o tipo de comida, desde que ingiramos suficientemente menos calorias para perdermos 7 quilos por mês?

Mesmo que a reversão da diabetes se devesse apenas à restrição calórica, numa dieta de base vegetal ao menos pode-se ingerir comida a sério, em vez de subsistir principalmente de açúcar, leite em pó, xarope de milho e óleo (ingredientes comuns nalgumas bebidas de dieta líquida). Na realidade, numa dieta de base vegetal, pode-se comer tantos vegetais de baixo valor calórico quanto se queira. Portanto, mesmo que a única razão pela qual resulte se deva a ser mais uma espécie de dieta de restrição de calorias, é certamente uma versão mais saudável. Mas, mesmo os participantes no estudo que não perderam peso — ou chegaram a ganhar peso comendo quantidades enormes de alimentos vegetais inteiros e saudáveis — pareceram melhorar a sua diabetes. Portanto, os efeitos benéficos deste tipo de alimentação vão mais além da mera redução de peso.

O tratamento bem-sucedido da diabetes tipo 2 com uma alimentação de base vegetal data dos anos 1930, fornecendo “evidência incontestável” que uma dieta baseada em vegetais, frutas, cereais e leguminosas era mais eficaz no controle da diabetes do que outros tratamentos alimentares. Num ensaio aleatorizado e controlado, as necessidades de insulina baixaram para metade e ¼ das pessoas deixaram completamente de tomar insulina. Mas, mais uma vez, isto foi numa dieta de baixas calorias. O Dr. Walter Kempner na Faculdade de Medicina da Universidade Duke relatou resultados semelhantes 20 anos depois com os seus estudos de dietas de arroz e frutas, mostrando pela primeira vez reversões documentadas de retinopatia diabética em ¼ dos seus pacientes, algo que nem sequer se imaginava possível. Uma paciente, por exemplo, era uma mulher diabética de 60 anos já cega num olho e que podia ver apenas os contornos de objectos volumosos com o outro olho. Cinco anos depois, mantendo-se na dieta, a sua visão melhorou em vez de piorar. “Podia perceber faces, identificar sinais e ler manchetes de jornal”, e deixou de tomar insulina, ficou com níveis normais de açúcar no sangue, e teve uma diminuição de 100 pontos no seu colesterol. Outro paciente que começou por ser capaz de ler manchetes passou a poder ler o próprio texto da notícia, 4 meses depois. O que estava por detrás destas reversões incríveis? Seria por a alimentação ser extremamente pobre em gordura ou porque não havia proteína animal ou gordura animal? Ou, seria porque a dieta era tão restritiva e monótona que os pacientes perderam peso e melhoraram a sua diabetes dessa forma?

Para tentar distinguir os efeitos de cada componente, era necessário um estudo em que os investigadores mudassem as pessoas para uma dieta saudável, mas as forçassem a comer tanto, que não perdiam peso nenhum. Assim, poderíamos ver se uma alimentação de base vegetal tem benefícios, independentemente da perda de peso. Para isso acontecer, tivemos de esperar outros 20 anos até este estudo nos anos 1970. Nesse estudo, as dietas foram projectadas para manterem o peso. Os participantes eram pesados todos os dias, e, se começassem a perder peso, os pesquisadores diziam-lhes para comerem mais — na realidade, tanta comida que alguns dos participantes tiveram dificuldade em comê-la toda, mas acabaram por se adaptar. Assim, não havia alterações significativas de peso corporal apesar das restrições de carne e peixe, lacticínios, ovos, e comida processada; e havia vegetais suficientes — cereais integrais, feijões, hortaliças e fruta — para providenciar 65 g de fibra por dia, 4 vezes o que a dieta americana padrão (SAD) providencia.

A dieta que serviu de controlo (ou testemunha) foi a dieta convencionalmente recomendada a diabéticos, que tem quase 2 vezes mais fibra do que a dieta americana padrão (SAD), portanto provavelmente seria mais saudável do que aquilo que costumavam comer. Então, como se portou o grupo de dieta altamente saudável? Será que ajudou, mesmo sem qualquer perda de peso? O estudo comparou o número de unidades de insulina que os pacientes tinham de injectar antes e depois da alimentação de base vegetal. Em geral, os requerimentos de insulina baixaram 60%, e metade dos diabéticos puderam deixar a insulina completamente. Teria sido isto após 5 anos, ou 7 meses, como foi o caso dos outros estudos mencionados anteriormente? Não.

Foi após 16 dias.

Para sermos claros, estamos a falar de diabéticos que tiveram diabetes durante 20 anos e que injectavam 20 unidades de insulina por dia. Eles largaram a insulina completamente em 16 dias ou menos, graças a uma alimentação de base vegetal. O paciente 15, por exemplo, injectava 32 unidades de insulina na alimentação de controlo, e 18 dias depois, nada. Glicose no sangue mais baixa com 32 unidades de insulina a menos.

Esse é o poder das plantas.

Como bónus, o seu colesterol baixou para menos de 150, em média, após os 16 dias, tornando-os quase completamente “à prova de ataques cardíacos”. Tal como “mudanças moderadas na alimentação costumam resultar em reduções modestas” no colesterol, se se pedir que os diabéticos façam mudanças moderadas muitas vezes alcançam-se resultados igualmente moderados, o que é uma possível razão pela qual a maioria acaba por continuar a tomar comprimidos, injecções, ou ambos. “Tudo em moderação” pode ser uma afirmação mais verdadeira do que as pessoas imaginam. Alterações moderadas na alimentação podem deixar alguém com cegueira moderada, insuficiência renal moderada, amputações moderadas. “Tudo em moderação” pode não ser necessariamente uma coisa boa.

Quanto mais nós, como médicos, pedirmos aos nossos pacientes, mais se alcança. O velho provérbio “aponta para a Lua” parece que se aplica. “Pode ser mais eficaz do que limitar os pacientes a pequenos passos que podem parecer mais fáceis de gerir mas não são suficientes para prevenir realmente a progressão da doença”.


Apesar de ter dúzias de vídeos sobre diabetes, acho que Diabetes Reversal: Is It the Calories or the Food pode ser o vídeo com mais impacto que já fiz. Por favor partilha este vídeo que pode mudar e salvar vidas com toda a gente que conheças que tenha diabetes tipo 2 ou esteja em risco desta doença temida. No que me diz respeito, acho que deveria ser de visualização obrigatória para todos os profissionais de saúde. Quem me dera tê-lo visto quando eu era um estudante de medicina!

Vê o vídeo aqui: 

(legendas disponíveis em português nas opções do vídeo

- símbolo da roda dentada ou dos três pontos)


Se estes vídeos te beneficiaram ou a alguém que conheças, por favor considera ser um apoiante mensal.

Isto é o capítulo final de uma série de três. Se perdeste os dois primeiros, vê Reversing Diabetes with Surgery e Reversing Diabetes with Food.
Para mais sobre o trabalho notável do Dr. Kempner, vê:
Para mais vídeos relacionados, experimenta estes:
Com saúde,
Michael Greger, M.D.

Para uma visão geral desta temática, vê este filme:


(legendas disponíveis em português nas opções do vídeo

- símbolo da roda dentada ou dos três pontos)

PS: Se ainda não o fez, pode subscrever os meus vídeos gratuitos aqui e ver a última apresentação de final de ano:
Artigo traduzido por João Madureira. Lê o livro do Dr. Greger, "Como Não Morrer" (PT) ou "Comer Para Não Morrer" (BR). Em Portugal está também disponível um livro de receitas, também chamado "Como Não Morrer"

Conhece os 12 alimentos a consumir diariamente ou segue-nos e fala connosco na nossa página do Facebook

Comentários

Mensagens populares deste blogue

A Dúzia Diária

O Arroz Preto e o Vermelho são melhores que o Arroz Castanho (“integral”), que por sua vez é mais Saudável que o Arroz Branco

A Resposta a um Mistério do Cancro Colorretal