Porque são as taxas de cancro tão baixas na Índia?


Escrito originalmente pelo Dr. Michael Greger M.D. FACLM em 5 de Maio de 2015. Publicado originalmente aquiTraduzido por João Madureira. 
Crédito da imagem: peddhapati / Flickr.

Estima-se que muito tumores comecem quando temos cerca de 20 anos. No entanto, a deteção do cancro normalmente ocorre à volta da idade de 50 ou mais tarde. Assim, o cancro demora décadas a incubar. Por que razão demora tanto tempo? Estudos recentes indicam que em qualquer tipo de cancro, centenas de genes diferentes têm de ser modificados para transformar uma célula normal numa célula cancerígena. Apesar de os cancros se caracterizarem pela desregulação das vias de sinalização celular em múltiplos locais, a maior parte das terapias anticancro atuais envolvem a modulação de um único alvo. A quimioterapia tornou-se incrivelmente específica, mas a ineficácia, falta de segurança, e alto custo destas terapias direcionadas para um alvo específico tem levado a um verdadeiro desapontamento, e as empresas farmacêuticas estão a tentar agora desenvolver drogas de quimioterapia com múltiplos alvos.

No entanto, muitos produtos vegetais conseguem atingir múltiplos alvos de forma natural e são baratos e seguros comparados com os fármacos. No entanto, como as empresas farmacêuticas não conseguem adquirir patentes sobre as plantas, o desenvolvimento de terapias anticancro à base de plantas não tem recebido impulso. Podem funcionar (e até funcionar melhor, com base no conhecimento que temos), e podem ser mais seguras, ou mesmo completamente livres de riscos.

Se escolhêssemos um produto vegetal para iniciar os testes, poderíamos escolher a curcumina, o pigmento amarelo da curcúma (normalmente vendida com o nome “açafrão”). Antes de gastarmos dinheiro na pesquisa, poderemos colocar algumas questões, como “Será que as populações que comem muita curcuma têm taxas de cancro mais baixas?” Na realidade, a incidência de cancro em regiões com alto consumo de curcuma parece ser significativamente mais baixa. Dados populacionais indicam que alguns cancros extremamente comuns no mundo ocidental são muito menos prevalentes em regiões onde a curcuma é uma parte importante da alimentação.

Por exemplo, “a taxa geral de cancro na Índia é muito mais baixa do que nos países ocidentais.” Os americanos têm entre 8 a 14 vezes mais melanoma, 10 a 11 vezes mais cancro colorrectal, 9 vezes mais cancro do endométrio, 7 a 17 vezes mais cancro do pulmão, 7 a 8 vezes mais cancro da bexiga, 5 vezes mais cancro da mama, e 9 a 12 vezes mais cancro dos rins. Isto não representa 5, 10, ou 20 por cento mais, mas sim 5, 10, ou 20 vezes mais. Isto equivale a percentagens na ordem das centenas para o cancro da mama ou na ordem dos milhares para o cancro da próstata. — diferenças ainda maiores do que as encontradas no China Study.

Os pesquisadores deste estudo, apresentado no meu vídeo Back to Our Roots: Curry and Cancerconcluem: “Como os indianos correspondem a 1/6 da população mundial, e têm um dos maiores consumos de especiarias no mundo, estudos epidemiológicos neste país têm grande potencial para melhorar o nosso conhecimento da relação entre alimentação e cancro.” As taxas mais baixas de cancro podem, claro, não se deverem a um alto consumo de especiarias. Há vários factores dietéticos que podem contribuir para a baixa taxa geral de cancro na Índia. Entre eles estão um “consumo relativamente baixo de carne e uma alimentação principalmente à base de plantas, com muitas especiarias adicionadas.” 40% dos indianos são vegetarianos, e mesmo os que comem carne, não comem muita. E não tem a ver só com o que não comem, mas também com o que comem. A Índia é um dos principais produtores e consumidores de frutas e hortaliças frescas, e os indianos comem muitas leguminosas, tais como feijões, grão-de-bico, e lentilhas. Também comem uma grande variedade de especiarias, para além da curcuma; especiarias que constituem, por peso, os alimentos com mais antioxidantes do mundo.

Os estudos populacionais não podem provar uma correlação entre a ingestão de curcuma e diminuição de risco de cancro, mas podem certamente inspirar muita pesquisa. Até agora, a curcumina foi testada contra uma variedade de cancros humanos, incluindo colorrectal, pancreático, da mama, da próstata, mieloma múltiplo, do pulmão, e da cabeça e do pescoço, em termos quer de prevenção quer de tratamento. Para mais informação sobre a curcuma e a curcumina, vê: Carcinogen Blocking Effects of Turmeric Curcumin e Turmeric Curcumin Reprogramming Cancer Cell Death.

Estou a trabalhar numa dúzia e tal de vídeos sobre esta especiaria fantástica. Isto é o que eu tenho até agora:
A Amla, o pó seco de “groselha branca indiana”, é outro suplemento alimentar promissor:
Adiciono amla à minha receita de Pink Juice with Green Foam. No entanto, nem todos os produtos indianos são seguros. Vê, por exemplo o meu vídeo Some Ayurvedic Medicine Worse than Lead Paint Exposure.

Descobre mais sobre a concentração de antioxidantes nas especiarias em Antioxidants in a Pinch. Por que razão importam tanto os antioxidantes? Vê: Food Antioxidants and Cancer Food Antioxidants, Stroke, and Heart Disease.

Que tipo de frutos e vegetais poderão ser melhores? Vê: #1 Anticancer Vegetable Best Fruits for Cancer Prevention.

Com saúde,

Michael Greger, M.D.


PS: Se ainda não o fez, pode subscrever os meus vídeos gratuitos aqui e ver a última apresentação de final de ano:
Artigo traduzido por João Madureira. Lê o livro do Dr. Greger, "Como Não Morrer" (PT) ou "Comer Para Não Morrer" (BR). Em Portugal está também disponível um livro de receitas, também chamado "Como Não Morrer"

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