Vírus da Leucemia Bovina Implicado em Cancro da Mama Humano
Escrito originalmente pelo Dr. Michael Greger M.D. FACLM a
3 de Setembro de 2019. Publicado originalmente aqui. Traduzido e adaptado por João Madureira.
Crédito da imagem: Wikimedia Commons e Pixabay
Até 20% de todos os cancros em geral estão relacionados com infecções, particularmente vírus, e a lista
de agentes infeciosos potencialmente carcinogénicos está a crescer. Seria
óptimo descobrir um vírus que contribuísse para o risco de cancro de mama,
porque assim poderíamos ter novas formas de o prevenir e tratar. Actualmente, a
ligação dietética entre cancro da mama e o consumo de carne e lacticínios tem sido
considerado um
efeito da gordura saturada, mas há um vírus que causa cancros em bovinos, infectando
as células das glândulas mamárias das vacas. O vírus infecioso é então libertado na
cadeia alimentar humana. Visto que a maior parte das manadas de vacas leiteiras
nos EUA está infectada, os cientistas supõem que os americanos estão muitas
vezes expostos a este vírus da leucemia bovina (BLV). (também conhecido por leucose enzoótica bovina)
Não tínhamos prova disto até 2003, 34 anos depois de o vírus
ter sido identificado pela primeira vez. Pouco depois, os nossos melhores exames
não conseguiram encontrar anticorpos ao BLV no sangue humano. Quando o nosso
sistema imunológico fica exposto a vírus, cria anticorpos para o atacar. Se não
há anticorpos, não há exposição. “Isto levou à opinião prevalecente que… o
vírus não é um problema de saúde pública.” Apesar de esses exames “terem sido realizados
com a melhor tecnologia da altura, eram extremamente insensíveis comparados com
técnicas mais modernas”. Como resultado disso, os pesquisadores decidiram
re-examinar o assunto agora que temos exames melhores. Retiraram sangue de
cerca de 250 pessoas simplesmente para responder à questão: “Há algum humano
com anticorpos ao BLV?” A resposta? Sim, 191 tinham – uma percentagem de 74%.
Isto não devia ser uma grande surpresa. Nessa altura, cerca de 90% das manadas
de vacas leiteiras americanas estavam infectadas, e, de acordo com a última
sondagem nacional, 100% das grandes quintas industriais de lacticínios estavam infectadas, comprovado por amostras de leite proveniente
dessas explorações. Dado isto, porque não há uma epidemia de cancro dos úberes?
O gado leiteiro é abatido tão cedo que não há muito tempo para eles
desenvolverem grandes tumores, mas é assim que a maior parte das mulheres podem
estar a ficar infectadas. Apesar de a pasteurização destruir o vírus, quem
nunca comeu um hambúrguer mal passado, com cor rosada no interior?
O que interessa é que “a suposição de longa data de que o BLV não é um
problema de saúde pública… já não é sustentável…” Todo este campo de
investigação precisa de ser reaberto, e o próximo passo é determinar se os
humanos estão mesmo infectados. “A presença de anticorpos para vírus
específicos no soro sanguíneo humano é geralmente interpretado como um
indicador de infecção no passado ou no presente com o vírus.” Mas, teoricamente,
podemos ter desenvolvido anticorpos a vírus mortos que comemos, vírus que
tinham sido mortos pela cozedura ou pasteurização. Só porque três quartos de
nós tenham sido expostos não significa que tenhamos sido activamente infectados
pelo vírus.
Como provamos isto? Precisaríamos de encontrar o retrovírus activamente
integrado no nosso próprio DNA. Bem, milhões de mulheres tiveram cirurgia
mamária, então porque não examinar esse tecido? Os pesquisadores fizeram isso e
publicaram as
suas descobertas no jornal de doenças infeciosas emergentes dos Centers for
Disease Control dos EUA: 44% das amostras testaram positivo para BLV, provando
pela primeira vez que os humanos estão infectados com o vírus da leucemia
bovina. O passo final? Determinar se o vírus contribui realmente para a doença.
Ou seja, será que os vírus da leucemia bovina que encontramos
no tecido mamário humano são cancerígenos ou apenas “passageiros inofensivos?”
Uma forma de o fazer é ver se o vírus está presente com mais frequência nas
pessoas com cancro da mama. Ninguém tinha examinado a presença do vírus em
tecido mamário de pessoas com cancro… até agora. “A presença de DNA de BLV nos
tecidos mamários foi fortemente associada
com cancro mamário, diagnosticado e histologicamente confirmado….” Um valor de
até 37% dos casos de cancro da mama humano podem ser atribuíveis à exposição ao
vírus da leucemia bovina.
Foi com muito interesse que li as revistas técnicas da indústria da carne e
dos lacticínios para ver como iriam tentar dar a volta a isto. Vejam o que
descobri no vídeo Resposta da Indústria ao Vírus da Leucemia Bovina no Cancro da Mama
(legendas em português disponíveis nas opções do vídeo)
Pela sua saúde,
Michael Greger, M.D.
PS: Se ainda não o fez, pode subscrever os meus vídeos gratuitos aqui e ver a última apresentação de final de ano:
- 2016: Como Não Morrer: O Papel da Alimentação na Prevenção, Paragem, e Reversão das Nossas 15 Doenças Mais Mortais. (legendas disponíveis nas opções do filme)
Artigo traduzido e adaptado por João Madureira. Lê o livro do Dr. Greger, "Como Não Morrer" (PT) ou "Comer Para Não Morrer" (BR). Em Portugal está também disponível um livro de receitas, também chamado "Como Não Morrer"
Conhece os 12 alimentos a consumir diariamente ou segue-nos e fala connosco na nossa página do Facebook. Vê também o nosso grupo de discussão.
Comentários
Enviar um comentário