Diminuindo a expressão do “Gene da Morte”

Originalmente escrito pelo Dr. Michael Greger M.D. FACLM a 11 de Julho de 2019. Publicado originalmente aquiTraduzido e adaptado por João Madureira.

Crédito da Imagem: Pixabay

Apenas 1 em cada 10.000 pessoas vive até aos 100 anos. Qual será o seu segredo?

Em 1993, ocorreu um avanço histórico na pesquisa sobre longevidade, descobrindo-se que uma única mutação genética duplicava a longevidade de um minúsculo nemátodo. Em vez de viverem apenas 20 dias, os mutantes viveram 60 dias ou mais. Esta extensão da longevidade foi “a maior já reportada em qualquer organismo”. Este nemátodo matusalém, uma “maravilha médica, é “o equivalente de um ser humano saudável com 200 anos”. Tudo por causa de uma única mutação? Como é isso possível? Presumivelmente, o envelhecimento é causado por múltiplos processos, afectados por muitos genes. Como poderia a eliminação de um único gene duplicar a longevidade?

O que é este gene do envelhecimento — um gene que aumenta tanto o envelhecimento que se for eliminado, os animais vivem o dobro do tempo? Tem sido chamado o gene “Grim Reaper” (Morte) e é o equivalente no nemátodo ao receptor do “factor de crescimento semelhante à insulina – 1” (IGF-1). Mutações do mesmo receptor em humanos podem ajudar a explicar porque algumas pessoas vivem até aos 100 anos e outras não.

Então, será que depende apenas da sorte, se temos bons ou maus genes? Não, podemos ligar e desligar a expressão desses genes, dependendo da nossa alimentação. Há anos atrás eu falei de uma notável série de experiências sobre IGF-1, um hormônio (ou hormona) promotora do câncer (ou cancro) que é libertada excessivamente pelo nosso fígado quando comemos proteína animal. Homens e mulheres que não comem proteínas de carne, clara de ovo, ou lacticínios apresentam níveis significativamente menores de IGF-1 circulando nos seus corpos, e se as pessoas passarem para uma alimentação de base vegetal, isso pode diminuir significativamente os níveis de IGF-1 em apenas 11 dias, melhorando marcadamente a capacidade do sangue das mulheres em suprimir o crescimento de células de câncer de mama e matar essas células.

Da mesma forma, o soro sanguíneo de homens numa alimentação de base vegetal suprime o crescimento de células de câncer de próstata cerca de 8 vezes melhor do que antes de mudarem a dieta. No entanto, esta melhoria drástica nas defesas contra o câncer é anulada se lhes for dado a mesma quantidade de IGF-1 que tinha saído do seu sistema como resultado de uma alimentação e uma vida saudável. Isto é uma das formas de explicar as baixas taxas de câncer entre populações de base vegetal: a diminuição de ingestão de proteína animal leva a uma diminuição de IGF-1, que por sua vez leva a uma diminuição no crescimento do câncer. O efeito é tão potente que o Dr. Dean Ornish e os seus colegas conseguiram reverter a progressão de câncer de próstata em fase inicial sem quimioterapia, cirurgia, ou radiação — apenas um programa de alimentação baseada em vegetais e mudança de estilo de vida.

Quando somos crianças, precisamos de hormônios (hormonas) de crescimento para podermos crescer. Há um defeito genético raro que causa uma deficiência severa de IGF-1, levando a um tipo de nanismo. Também faz com que se seja, na prática, à prova de câncer. Um estudo não reportou uma única morte de câncer em cerca de 100 indivíduos com deficiência de IGF-1. E que tal 200 indivíduos? Nenhum desenvolveu câncer. A maior parte dos tumores malignos estão cobertos com receptores de IGF-1, mas se não há IGF-1, eles podem não conseguir crescer e expandir-se.

Isto pode explicar porque algumas vidas parecem ser encurtadas por comer alimentações low-carb. No entanto, isso não é com qualquer dieta low-carb. (Para ser específico, as dietas low-carb baseadas em fontes animais parecem ser o problema, enquanto dietas low-carb baseadas em vegetais estiveram associadas com um risco menor de morte.) Mas as dietas low-carb são ricas em gordura animal para além da proteína animal, portanto como sabemos que não foi a gordura animal saturada que estava a matar as pessoas e que não tinha nada a ver com a proteína? O que precisamos é de um estudo que siga alguns milhares de pessoas e as suas ingestões de proteínas durante 20 anos ou assim, e ver quem vive mais, quem contrai câncer (cancro), e quem não contrai. Mas, nunca existiu um tal estudo… até agora.

6000 homens e mulheres com mais de 50 anos de todos os EUA foram seguidos durante 18 anos, e as pessoas com menos de 65 anos com alta ingestão de proteína tinham um aumento de 75% na mortalidade em geral e um aumento de quatro vezes no risco de morrer de câncer (cancro). Importa o tipo de proteína? Sim. “Estas associações não se verificaram ou foram atenuadas se as proteínas fossem derivadas de plantas”.


(todos os vídeos abaixo indicados dispõem de legendas em português nas opções do vídeo)

A história do IGF-1 é tão importante que foi uma das primeiras séries de vídeo que produzi para o NutritionFacts.org. Se quiser, veja a série original começando por Engenhando uma cura.

Para paralelos entre a indústria do tabaco e a indústria alimentar, veja:
E quanto à indústria dos telefones celulares? Será que radiação de telefones celulares causa câncer (cancro)?

Para mais sobre longevidade e envelhecimento saudável, veja:
O artigo falava abaixo de 65 anos. E se tiver mais de 65 anos? Veja: Aumentar a ingestão de proteína depois dos 65 anos.

Pela sua saúde,

Michael Greger, M.D.

PS: Se ainda não o fez, pode subscrever os meus vídeos gratuitos aqui e ver a última apresentação de final de ano:
Artigo traduzido e adaptado por João Madureira. Lê o livro do Dr. Greger, "Como Não Morrer" (PT) ou "Comer Para Não Morrer" (BR). Em Portugal está também disponível um livro de receitas, também chamado "Como Não Morrer"

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