A carne pode levar ao aumento de hormônios de stress e à diminuição da testosterona
Escrito originalmente pelo Dr. Michael Greger M.D. FACLM a
25 de Junho de 2019. Publicado originalmente aqui. Traduzido e adaptado por João Madureira.
Crédito da imagem: Pexels
Glossário Portugal / Brasil:
Hormonas / hormônios
Hidratos de Carbono / carboidratos
Uma crítica da validade científica dos conselhos dietéticos da revista Men’s
Health descobriu alegações de que a carne pode originar nos homens um
“aumento de testosterona”, mas já sabíamos
há cerca de 25 anos que uma refeição com essa quantidade de gordura pode reduzir,
após poucas horas, os níveis de testosterona em 1/3. De facto, uma queda
significativa, quer de testosterona livre, quer de testosterona ligada, no fluxo
sanguíneo ocorre apenas uma hora depois da refeição entrar na boca, mas uma
refeição com pouca gordura e com muitos carboidratos não tem esse efeito. Com
base em estudos in vitro sobre os
efeitos da gordura em células testiculares numa placa de Petri, suspeitou-se
que a gordura no sangue pode na realidade suprimir a produção de testosterona
em tempo real. Se as pessoas se alimentarem
com muitos ovos e carne, incluindo peixe e aves, e depois mudarem para uma
alimentação com pão, fruta, vegetais e açúcar — mas com a mesma quantidade de
gordura — todos os seus níveis de testosterona aumentam. No entanto, o que é
ainda mais importante, todos os níveis de cortisol, um hormônio do stress
produzido pelas nossas glândulas supra-renais, diminuem.
Ter baixos níveis de hormônios do stress é bom, porque os altos níveis de
cortisol podem “ser um preditor de morte cardiovascular” em homens e mulheres, com ou
sem doença cardiovascular pré-existente. De facto, isto pode ajudar a explicar a “morte
por desgosto,” o risco aumentado de ataque cardíaco e AVC nas semanas a seguir
à perda de um cônjuge. Os níveis mais elevados de cortisol, nos dias, meses, ou
mesmo anos depois de perder alguém que se ama podem aumentar
o risco cardíaco e reduzir a função imunológica. E o aumento de níveis de
hormônios do stress devidos à perda de um cônjuge, um aumento de cerca de 50
pontos, é menos do que o aumento dos níveis ao seguir
uma alimentação rica em carne.
O cortisol também pode ajudar a explicar
por que as pessoas deprimidas tendem a ganhar gordura abdominal. A razão pela
qual a obesidade na barriga está associada
com elevada secreção de cortisol pode ser que a gordura abdominal de certa
forma absorve o cortisol, portanto a acumulação de gordura à volta dos nossos órgãos
internos pode ser uma adaptação pela qual o nosso corpo lida com o stress
excessivo.
Este aumento nos hormônios do stress de cada vez que comemos muita carne
pode não só afectar
a nossa saúde, mas também a das nossas crianças. “Evidência substancial sugere
que as alimentações maternas de alta densidade proteica têm efeitos adversos
no feto”. Por exemplo, nos anos 1960, foi realizada
uma experiência em mulheres grávidas em Motherwell, na Escócia, em que lhes
disseram que ingerissem uma alimentação rica em carne, na esperança de prevenir
a pré-eclâmpsia, uma doença da gravidez. Não resultou. De facto, as mais baixas
taxas de pré-eclâmpsia que já vi foram em mulheres que comiam
apenas vegetais — apenas 1 caso em 775 gravidezes. Normalmente a
pré-eclâmpsia atinge cerca de 5% das gravidezes, portanto deveriam haver
dezenas de casos, sugerindo que uma alimentação de base vegetal pode aliviar
a maior parte, senão todos, os sintomas desta doença potencialmente
preocupante. Então o que aconteceu quando as mulheres grávidas passaram de uma
ingestão de cerca de 1 porção de carne para cerca de 2 porções? As mães que comiam
mais carne e menos vegetais durante a gravidez deram à luz crianças que
cresceram com pressão sangüínea mais elevada.
“Uma explicação proposta para os efeitos adversos do alto consumo de carne
e peixe é que isto pode aumentar
as concentrações de cortisol nas mães, que, por sua vez, afetam o feto em
desenvolvimento”, recalibrando o seu “termóstato” dos hormônios do stress para
um nível mais alto. Mas não temos a certeza até ser testado. E de facto,
encontraram-se níveis mais altos de cortisol no sangue “em filhos e filhas
de mulheres que relataram maior consumo de peixe e carne”, um aumento de cerca
de 5% por cada porção de carne ou peixe. Tais dietas apresentam um stress
metabólico para a mulher e de certa forma “reprogramam” o eixo hipotálamo-hipófise-adrenal
das suas crianças, levando a hipercortisolemia durante a vida, ou seja, níveis
elevados de hormônio do stress no sangue. Isto pode ajudar a explicar porque
cada porção diária de carne durante o final da gravidez pode levar
a mais 1% de massa de gordura nas suas crianças quando chegam à adolescência.
Portanto, isto pode aumentar o risco das crianças se tornarem obesas mais
tarde na vida e ter “importantes implicações para a saúde pública e em termos
de prevenção da obesidade”.
Será que as crianças das mães que comem mais
carne durante a gravidez também têm respostas exageradas a acontecimentos
stressantes? Os pesquisadores colocaram-nos num teste de stress — falar em
público e aritmética mental — e mediram a sua resposta de cortisol. Se a sua
mãe tivesse comido menos de duas porções de carne/peixe por dia enquanto estava
grávida, eles tinham pequenos aumentos dos hormônios do stress das suas
glândulas supra-renais. Aqueles com mães que comeram mais, ficaram stressados;
e aqueles cujas mães comeram o máximo — 17 porções ou mais por semana, que é
mais de 2 porções por dia — pareceram estar realmente nervosos. De certa forma somos
o que a nossa mãe comeu.
(todos os vídeos abaixo indicados têm legendas em português disponíveis nas
opções do vídeo)
Quer saber de mais loucuras da revista Men’s Health? Veja o meu vídeo Mudando a alimentação de um homem após o diagnóstico de câncer de próstata.
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durante a gravidez?
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cálcio para diminuir os níveis de chumbo?
Pela sua saúde,
Michael Greger, M.D.
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- 2016: Como Não Morrer: O Papel da Alimentação na Prevenção, Paragem, e Reversão das Nossas 15 Doenças Mais Mortais. (legendas disponíveis nas opções do filme)
Artigo traduzido e adaptado por João Madureira. Lê o livro do Dr. Greger, "Como Não Morrer" (PT) ou "Comer Para Não Morrer" (BR). Em Portugal está também disponível um livro de receitas, também chamado "Como Não Morrer"
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