A alimentação para a qual evoluímos


Escrito originalmente pelo Dr. Michael Greger M.D. FACLM a 13 de Junho de 2019. Publicado originalmente aquiTraduzido e adaptado por João Madureira.

Crédito da imagem: Flickr

Existem 3 teorias gerais sobre a evolução e a alimentação. Uma é que os humanos se tornaram aptos a ingerir cereais e outros produtos da revolução agrícola nos últimos 10.000 anos. A segunda é a visão paleo de que “10.000 anos é um piscar de olho no tempo da evolução, e que os humanos estão adaptados a alimentações paleolíticas com muitas carnes magras”, mas porquê ficar apenas por aí? A terceira teoria é que os últimos 200.000 anos representam apenas 1% dos aproximadamente 20 milhões de anos da evolução desde o nosso antepassado comum com os grandes símios. Então, qual é a alimentação natural humana?

Durante os anos em que verdadeiramente nos tornámos naquilo que somos, que se poderia dizer que foram os primeiros 90% da nossa existência, as nossas exigências nutricionais reflectiam um passado ancestral em que comíamos principalmente folhas, flores, e frutos, com alguns insectos também que vinham com a fruta, e com os quais obtínhamos a nossa vitamina B12. “Por esta razão, outra abordagem que poderia melhorar o nosso entendimento das melhores práticas alimentares em relação aos humanos modernos, seria não nos focarmos no passado mas sim no aqui e agora; isto é, focarmo-nos no estudo dos alimentos ingeridos pelos parentes mais próximos dos humanos modernos”, tendo em conta “a falta de evidência que suporte qualquer mudança notável nos requerimentos nutricionais, metabolismo, ou fisiologia digestiva dos humanos”, comparados com os outros grandes símios.

Isto poderia explicar porque razão os frutos e vegetais não só são bons para nós mas são vitais para a nossa sobrevivência. De facto, somos uma das poucas espécies tão adaptadas a uma alimentação vegetal que na realidade podemos morrer por não comer fruta e vegetais, contraindo escorbuto, a doença da deficiência de vitamina C. A maior parte dos outros animais simplesmente fabrica a sua própria vitamina C, mas porque iria o nosso corpo despender essa energia quando evoluímos perto de árvores a comer fruta e vegetais o dia todo?

Presumivelmente, não é uma coincidência que os poucos outros mamíferos incapazes de sintetizar a sua própria vitamina C — incluindo porquinhos-da-índia, alguns coelhos, e morcegos frugívoros — sejam todos, tal como nós grandes símios, fortemente herbívoros. Mesmo durante a Idade da Pedra, dados de fezes humanas fossilizadas rehidratadas dizem-nos que poderíamos ter andado a obter até 10 vezes mais vitamina C e 10 vezes mais fibra alimentar do que obtemos agora. A questão é: serão estas ingestões incrivelmente altas de nutrientes um subproduto inescapável de comer alimentos vegetais inteiros o dia todo, ou poderão servir algum propósito importante, como defesa anti-oxidante?

As plantas criam antioxidantes para defenderem as suas próprias estruturas dos radicais livres. O corpo humano precisa de se defender contra o mesmo tipo de pró-oxidantes, portanto nós também desenvolvemos uma gama de incríveis enzimas antioxidantes, que são eficazes mas não infalíveis. Os radicais livres podem penetrar as nossas defesas e causar danos que se acumulam com a idade, levando a uma variedade de mudanças que causam doenças e que em última análise levam à morte. É aqui que as plantas entram: “Alimentos vegetais ricos em antioxidantes formavam tradicionalmente a maior parte da alimentação humana”, por isso não tivemos de desenvolver um sistema antioxidante tão potente. Podemos apenas passar parte do esforço para as plantas, como dar-nos vitamina C para que não nos preocupemos com fazê-la nós próprios. O uso das plantas como um apoio pode bem ter aliviado a pressão para o desenvolvimento evolucionário adicional das nossas próprias defesas. Ficámos dependentes de obter muitos alimentos vegetais na nossa alimentação, e quando isso não acontece, podemos sofrer consequências adversas para a saúde. 

Mesmo durante a Idade da Pedra, isto não teria sido um grande problema. Apenas na história recente começámos a desistir de alimentos vegetais inteiros. Mesmo os seguidores actuais do paleo e do low-carb podem estar a comer mais vegetais do que as pessoas que se alimentam da maneira padrão no Ocidente. Há uma certa percepção de que os low-carbers consomem mais carne de vaca, bacon, e manteiga, mas isso é apenas uma pequena minoria. O que estão a consumir mais é salada. De facto, de acordo com uma comunidade online low-carb, a principal coisa que as pessoas afirmaram que estavam a comer mais eram vegetais. Óptimo! O problema não é quando as pessoas diminuem a ingestão de carboidratos consumindo vegetais em vez de junk food. A preocupação é passar para alimentos de origem animal. “Uma aderência maior a [uma dieta low-carb] rica em fontes animais de gordura e proteína esteve associada com maior mortalidade pós-ataque cardíaco, e também por todas as causas combinadas”.

Se há uma coisa a lembrar dos estudos sobre alimentações ancestrais, é que “as alimentações baseadas em grande parte em alimentos vegetais promovem a saúde e a longevidade”.


(Todos os vídeos abaixo indicados possuem legendas em português disponíveis nas opções do vídeo)

Para mais informação sobre alimentações paleo e low-carb, veja:
Se ficou fascinada como podemos tirar partido dos mecanismos de defesas das plantas, veja os meus vídeos Roubando as Defesas às Plantas e Xenohormese: O que não mata as plantas pode tornar-nos mais fortes.
Qual deve ser o nosso objectivo de antioxidantes? Veja:
Pela sua saúde,

Michael Greger, M.D.

PS: Se ainda não o fez, pode subscrever os meus vídeos gratuitos aqui e ver a última apresentação de final de ano:
Artigo traduzido e adaptado por João Madureira. Lê o livro do Dr. Greger, "Como Não Morrer" (PT) ou "Comer Para Não Morrer" (BR). Em Portugal está também disponível um livro de receitas, também chamado "Como Não Morrer"

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