Como baixar a exposição alimentar a ftalatos


Escrito originalmente pelo Dr. Michael Greger M.D. FACLM a 21 de Maio de 2019. Publicado originalmente aquiTraduzido e adaptado por João Madureira.


Crédito da imagem: Wikimedia Commons

Os ftalatos são químicos presentes nos plásticos, que desregulam as hormonas (ou no Brasil, hormônios), e que estão relacionados com diversos efeitos adversos na saúde, tais como perturbar o desenvolvimento de crianças, e nos adultos, afectar a saúde reprodutiva do homem e provocar endometriose nas mulheres, e estão associados com um aumento da gordura abdominal em ambos. “Dada o crescente conjunto de evidências científicas relacionando a exposição a ftalatos com resultados prejudiciais à saúde, é importante compreender quais as principais fontes de ftalatos”.

Qual é a principal fonte de exposição? A alimentação. Se as pessoas jejuarem durante alguns dias, obtém-se uma queda significativa na quantidade de ftalatos que passam para a sua urina. No entanto, não é possível fazer jejum por períodos prolongados. Felizmente, podemos ver quedas semelhantes apenas com uma alimentação à base de vegetais durante alguns dias, o que nos dá uma pista sobre onde se encontram maiores quantidades de ftalatos.

Os níveis mais altos encontram-se em carnes, gorduras, e lacticínios. As aves aparecem consistentemente como as mais contaminadas, com alguns dos níveis mais altos alguma vez relatados, embora haja excepções geográficas. No Reino Unido, por exemplo, o peixe revelou-se pior que as aves, e, na Bélgica, nada parece ser pior que a carne de rena em termos de contaminação. No entanto, nos Estados Unidos, são as aves, e a descoberta de que o consumo de ovos também está significativamente associado com níveis de ftalatos “sugere que as próprias galinhas estejam contaminadas”, ao invés de surgir apenas do plástico em que são embaladas nas lojas.

O mesmo pode não se aplicar aos lacticínios. Pesquisadores em Seattle estudaram 10 famílias e colocaram-nas durante 5 dias numa alimentação de alimentos orgânicos / biológicos sem qualquer embalagem. Nenhum alimento tocou em plástico. O leite orgânico foi entregue em garrafas de vidro, e mesmo as caixas utilizadas para transportar a comida eram de madeira em vez de plástico. Era como o estudo do jejum, para ver que papel teria a eliminação de alimentos processados na diminuição de níveis de ftalatos, pois nem toda a gente quer passar para uma alimentação à base de vegetais - ou parar de comer completamente. No meu vídeo, mostro um gráfico que ilustra o valor das famílias no início, antes de mudarem a alimentação, e o valor uma semana após a experiência, de volta ao valor inicial. O que aconteceu no meio? Quando se alimentaram de alimentos frescos e orgânicos, assistiu-se a “um aumento drástico e inesperado” num dos ftalatos mais tóxicos — e não apenas por pouco: era um aumento de 2000%. Então os pesquisadores testaram todos os alimentos. Uma das especiarias tinha um valor altíssimo, e também os lacticínios. No entanto, aparentemente a maior parte dos ftalatos não provêm da vaca; têm origem nas tubagens. Se as vacas forem ordenhadas manualmente (algo que já nem os Amish fazem), os níveis de ftalato no leite são baixos, mas se as mesmas vacas forem ordenhadas por máquina, o leite capta ftalatos das tubagens. Como tal, os níveis finais podem depender mais da tubagem do que da alimentação das vacas.

Ainda não temos a certeza de qual a fonte da contaminação das galinhas por ftalatos. Enquanto esse estudo foi feito em adultos, soubemos mais recentemente qual a fonte provável de contaminação em crianças. Os pesquisadores encontraram basicamente a mesma coisa: níveis mais altos na carne, incluindo aves e peixe. De novo, as aves pareceram ser as piores, enquanto o consumo de soja estava associado com níveis significativamente menores. Mas de que tipo de exposição falamos? Os pesquisadores calcularam o que poderá ser a exposição típica para crianças até aos 3 anos, adolescentes, e mulheres. Que comparação se pode fazer com as directrizes actuais? A Agência de Proteção Ambiental (EPA) dos EUA tem uma dose de referência, que é o limite máximo aceitável, de 20 µg/kg-dia, baseado no risco para o fígado. A Europa coloca a sua ingestão diária máxima para toxicidade testicular em 50 µg/kg-dia. A alimentação típica de uma criança até 3 anos excede o nível de segurança da EPA, “enquanto uma alimentação rica em carne e lacticínios excedia cerca de 4 vezes esse limite. Para os adolescentes, uma alimentação rica em carne e lacticínios também excedeu a dose de referência da EPA”. De facto, as alimentações ricas em carne e consumo de lacticínios resultaram num aumento de 2 vezes na exposição. E “todas as alimentações para todos os grupos excederam as ingestões admissíveis diárias (ADI) derivados da Comissão para a Segurança de Produtos Consumíveis dos EUA”, em relação a problemas com a produção de esperma, enquanto as alimentações ricas em carne e lacticínios podem também exceder a ingestão admissível em relação a defeitos de nascimento.


(os vídeos citados abaixo possuem legendas em português disponíveis nas opções do vídeo)

Para mais informações sobre as fontes alimentares de ftalatos, encorajo-te a ver Consumo de frango e a feminilização da genitália masculina e Diminuindo a ingestão alimentar de antibióticos. No entanto, a alimentação não é a única forma de ficarmos expostos. Vê o vídeo Evitando a exposição a ftalatos em adultos, que discute o risco em brinquedos de crianças e em acessórios sexuais para adultos.

Pela sua saúde,

Michael Greger, M.D.


PS: Se ainda não o fez, pode subscrever os meus vídeos gratuitos aqui e ver a última apresentação de final de ano:
Artigo traduzido e adaptado por João Madureira. Lê o livro do Dr. Greger, "Como Não Morrer" (PT) ou "Comer Para Não Morrer" (BR). Em Portugal está também disponível um livro de receitas, também chamado "Como Não Morrer"

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