Como alimentar as tuas bactérias intestinais
Escrito originalmente pelo Dr. Michael Greger M.D. FACLM a
26 de Março de 2019. Publicado originalmente aqui. Traduzido e adaptado por João Madureira.
Crédito da imagem: Wikimedia Commons
Durante muitos anos, acreditava-se que
a principal função do intestino grosso era apenas absorver água e excretar
resíduos, mas “agora é claro que o complexo ecossistema microbiano nos nossos
intestinos deveria ser considerado como um órgão separado dentro do corpo”, e
que esse orgão funciona com MAC, hidratos de carbono acessíveis à microbiota.
Ou por outras palavras, principalmente fibra.
Uma das razões porque se pode obter uma
aumento de quase 2 gramas de fezes por cada grama de fibra ingerida, é que o
processo de fermentação da fibra no nosso cólon promove o crescimento
bacteriano. A maior parte do peso das nossas fezes é bactérias
puras, triliões e triliões de bactérias, e isso foi visto numa alimentação
britânica, pobre em fibra. As pessoas que tomam suplementos de fibra sabem que
uma poucas colheradas de fibra pode levar a defecações massivas, porque a fibra
é o alimento das nossas boas bactérias intestinais. Quando comemos um alimento
vegetal integral como a fruta, estamos a dizer à nossa flora intestinal para
ser “frutuosa” e multiplicar-se.
A partir da fibra, a nossa flora intestinal produz
ácidos gordos de cadeia curta, que são uma fonte importante de energia para as
células no revestimento do cólon. Então alimentamos a nossa flora com fibra, e
elas alimentam-nos de volta. Estes ácidos gordos de cadeia curta também
funcionam suprimindo a inflamação e o cancro [câncer], e é por isso
que pensamos
que ingerir fibra pode ser tão bom para nós. No entanto, quando não comemos
alimentos vegetais integrais em quantidade suficiente, estamos na realidade a
matar de fome o nosso “eu” microbiano, como discuto no meu vídeo Disbiose intestinal: matando de fome o nosso “eu” microbiano.
Nas alimentações tradicionais baseadas em plantas, obtemos muita fibra e muitos
ácidos gordos de cadeia curta, e gozamos de proteção em relação a doenças do
Ocidente como o cancro [câncer] do cólon. Em contraste, numa alimentação padrão
americana, com muitos alimentos processados, nada resta para alimentar a nossa
flora intestinal. É tudo absorvido no nosso intestino delgado antes de sequer
chegar ao cólon. Não só isto pode significar perda de metabolitos microbianos
benéficos, mas também uma perda dos próprios micróbios benéficos.
A pesquisa mostra que o principal problema de uma alimentação Ocidental é
não deixar nenhum resto para as nossas bactérias comerem, resultando em
disbiose, um desequilíbrio em que as más bactérias podem tomar o poder e
aumentar a nossa suscetibilidade a doenças inflamatórias ou cancro (câncer) do
cólon, ou talvez até levar a síndrome metabólico, diabetes tipo 2, ou doença
cardiovascular.
É como quando os astronautas regressam
de vôos espaciais tendo perdido muitas das suas boas bactérias porque não
tinham acesso a comida autêntica. Há demasiadas pessoas a levar “um estilo de
vida típico de um astronauta”, sem comer frutas e vegetais frescos. Por
exemplo, os astronautas perderam quase 100% das suas lactobacillus plantarum,
que é uma das boas bactérias, mas os estudos revelam que
a maioria dos americanos nem sequer a tem, embora os que se alimentam mais à
base de plantas tenham níveis melhores.
Portanto é usá-la ou perdê-la. Se as pessoas forem alimentadas
com amido resistente, um tipo de MAC encontrado nas leguminosas (feijões), em
poucos dias as bactérias que se alimentam de amido resistente atingem níveis
altos, mas depois morrem outra vez quando se pára a experiência. Ingerir
apenas meia lata de grãos-de-bico todos os dias pode “modular
a composição microbiana intestinal para promover a saúde intestinal”,
aumentando as bactérias potencialmente boas e diminuindo as bactérias
patogénicas e putrefactivas. Infelizmente, a maior parte dos americanos não come feijões
todos os dias, ou cereais integrais suficientes, ou fruta suficiente, ou
hortaliças suficientes. Portanto, a flora intestinal de uma pessoa
aparentemente saudável pode não ser equivalente a uma flora intestinal realmente
saudável. É possível que a microbiota seja na realidade disbiótica porque
comemos uma alimentação tão pobre em fibra comparada
com a de populações que podem comer 5 vezes mais fibra e que têm um risco cerca
de 50 vezes menor de cancro (câncer) do cólon.
(os vídeos abaixo indicados possuem legendas em português, que etão disponíveis nas opções)
Isto é uma das razões porque recomendo três porções diárias de leguminosas
(feijões, ervilhas, grão-de-bico, e lentilhas) na minha lista da Dúzia Diária.
A ligação ao microbioma pode explicar os resultados extraordinários no
estudo de que falo no meu vídeo Vale a pena passar de arroz branco para arroz integral?.
Mais sobre leguminosas:
- Feijões e o efeito de segunda refeição
- Feijões enlatados ou cozidos?
- Aumento da esperança de vida ingerindo feijões
- Feijões são bons para o coração
- Feijões enlatados ou rebentos de feijão?
- Os diabéticos devem tomar leguminosas
- Abranda o ritmo do teu coração: feijões vs. exercício
Mais sobre a revolução do microbioma na medicina:
- Tratando a colite ulcerosa com a alimentação
- Microbioma: a história interior
- Prebióticos: cuidando do nosso jardim interior
- Qual é o enterotipo do teu microbioma intestinal?
- Como mudar o teu enterotipo
- Paleococó: o que podemos aprender de fezes
fossilizadas
- Como desenvolver um ecossistema intestinal saudável
- Microbioma: somos o que elas comem
Para mais sobre a saúde intestinal, vê:
- A dieta da letra “F” de Burkitt
- Cancro (câncer) da mama e prisão de ventre
- Quantas defecações devemos ter por dia?
- Devemos sentar, agachar ou encostar durante uma
defecação?
Com saúde
Michael Greger, M.D.
PS: Se ainda não o fez, pode subscrever os meus vídeos gratuitos aqui e ver a última apresentação de final de ano:
- 2016: Como Não Morrer: O Papel da Alimentação na Prevenção, Paragem, e Reversão das Nossas 15 Doenças Mais Mortais. (legendas disponíveis nas opções do filme)
Artigo traduzido e adaptado por João Madureira. Lê o livro do Dr. Greger, "Como Não Morrer" (PT) ou "Comer Para Não Morrer" (BR). Em Portugal está também disponível um livro de receitas, também chamado "Como Não Morrer"
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