Como tratar a doença renal crónica com alimentação


Escrito originalmente pelo Dr. Michael Greger M.D. FACLM em 18 de Outubro de 2018. Publicado originalmente aquiTraduzido por João Madureira.


“Nos Estados Unidos, cerca de 1 em cada 3 adultos com mais de 65 anos tem doença renal crónica (DRC)”, como noto no meu vídeo Treating Chronic Kidney Disease with Food, mas a “maioria dos pacientes com DRC não progride para estágios avançados de DRC porque a morte precede a progressão para doença renal em fase terminal…” Num estudo que acompanhou durante uma década cerca de 1000 pessoas com 65 anos ou mais e com doença renal crónica, apenas uns quantos tiveram de se submeter a diálise porque a maioria morria. A coisa mais assustadora para muitos pacientes renais é o medo da diálise, mas pode ser 13 vezes mais provável morrer antes de ir para diálise. Sendo que a doença cardíaca mata mais do que practicamente todas as outras causas combinadas, o decréscimo da função renal pode preparar o caminho para ataques de coração, AVCs (acidentes vasculares cerebrais), e morte.
Por isso é tão importante que qualquer dieta que pretenda ajudar os rins ajude também o coração. Uma alimentação baseada em vegetais corresponde aos requisitos, fornecendo protecção contra as pedras nos rins, inflamação dos rins, e acidose, assim como doença cardíaca (veja em baixo os meus vídeos que cobrem esses mesmos tópicos). Ou seja, “o controlo da pressão arterial pode ser favorecido pela redução da ingestão de sódio e pela natureza vegetariana da dieta, o que também é importante para diminuir o colesterol no soro sanguíneo”, o que pode não só ajudar o coração mas também os próprios rins.

Em 1858, Rudolf Virchow, o pai da patologia moderna, foi o primeiro a descrever a degeneração da gordura nos rins. Em 1982, foi formalizada esta ideia de nefrotoxicidade dos lípidos— isto é, a possibilidade de que a gordura e o colesterol na corrente sanguínea poderiam ser tóxicos para os rins, de forma directa, baseado em dados que mostravam pedaços de gordura literalmente a entupir os “tubos” em rins autopsiados.

Desde que foi proposta, a noção tem ganhado balanço. Parece que elevados níveis de colesterol e gordura na corrente sanguínea podem acelerar a progressão da doença crónica renal através de efeitos tóxicos directos nas próprias células dos rins. Dada a ligação entre o colesterol e o declínio renal, tem sido recomendado o uso de estatinas, fármacos que diminuem o colesterol, para parar a progressão da doença renal. Claro que “os graves efeitos secundários destes fármacos em tecido muscular e no fígado devem ser considerados”. É por isso que uma alimentação baseada em plantas pode oferecer o melhor dos dois mundos, protegendo o coração e os rins sem os efeitos secundários dos fármacos.

As duas potenciais desvantagens são a quantidade de fósforo e potássio nos alimentos de origem vegetal, que às vezes os rins disfuncionais têm problemas em excretar. No entanto acontece que o fósforo na carne é absorvido duas vezes mais rápidamente, sem contar com os aditivos de fosfatos que são injectados nas carnes. Portanto, ter uma alimentação baseada em plantas pode significativamente baixar os níveis de fósforo no sangue. A preocupação com o potássio é em grande parte teórica porque os efeitos alcalinizantes dos alimentos vegetais ajudam o corpo a excretar o potássio, mas não é apenas teórico para as pessoas em diálise ou com doença em fase terminal que precisam de ser acompanhados de perto por um nutricionista especialista em rins.

Alimentações veganas especiais com restrição de proteína têm sido usadas com sucesso para abrandar ou parar a progressão da doença renal. Um estudo examinou a função renal em declínio de oito diabéticos seguidos durante um a dois anos antes de passarem para uma alimentação de base vegetal, o que pareceu parar o declínio inexorável na maioria dos pacientes. Isto levou os pesquisadores a proclamá-la como o tratamento de escolha para a disfunção renal diabética.

Alimentações estritamente baseadas em vegetais podem também abrandar a diálise durante um a dois anos e, após o transplante de rim, podem melhorar a sobrevivência do rim e melhorar a sobrevivência do paciente. No entanto, a maior parte dos artigos são apenas estudos pilotos para provar que se pode fazer. Não importa se a dieta é efectiva se não conseguimos que as pessoas a mantenham. Mas enquanto esperamos por estudos mais conclusivos, os dados actuais apoiam que se ofereça a hipótese destes tipos de alimentações de base vegetal como uma opção para todos os pacientes com doença renal crónica avançada ou em progressão.

“Mesmo que os efeitos de tais dietas na progressão da falência renal sejam ainda controversos, os efeitos positivos inquestionáveis das alimentações de base vegetal em relação a algumas das mais graves doenças cardiovasculares ou metabólicas que geralmente estão associadas a disfunção renal”, tal como hipertensão e diabetes, “fornecem razões para se recomendar que as proteínas sejam predominantemente de fontes vegetais”, para os pacientes com rins disfuncionais.

Ainda assim, a dieta é sub-utilizada, em parte porque algumas pessoas acham difícil alterar a sua alimentação. No entanto, sabemos que as comidas ricas em proteína animal levam a acidose metabólica. As nossas alimentações são “em grande parte acidificantes porque são deficientes em frutas e vegetais e contêm grandes quantidades de produtos de origem animal”. Então o que fizeram os médicos? Deram às pessoas bicarbonato de sódio. Em vez de tratar a causa – a carga ácida alimentar proveniente de demasiados produtos de origem animal e de poucas frutas e vegetais – trataram a consequência, dizendo “Demasiado ácido? Vamos dar-lhes alguma base: bicarbonato de sódio”. E funciona. A neutralização do ácido alimentar com o bicarbonato de sódio diminui o dano nos rins e abranda o declínio da função renal, no entanto o bicarbonato de sódio tem sódio, portanto os médicos podem estar apenas a criar outro problema.

Se os pacientes não forem eliminar os produtos de origem animal, deveriam pelo menos comer mais frutas e vegetais. Isso foi também tentado, e também resultou sem levar a um aumento de potássio no sangue. De facto, pode até funcionar melhor porque os frutos e vegetais têm a vantagem adicional de baixar a pressão arterial. O estudo que examinou isto é importante porque ilustra uma forma simples e segura de tratar a acidose metabólica: com frutas e vegetais. Portanto, o segredo para a paragem da progressão da doença crónica renal pode estar na banca dos vegetais ou no mercado dos produtores, não na farmácia.


Isto é a última parte de uma série de seis vídeos sobre os últimos dados científicos sobre a alimentação e a saúde dos rins. Vê o resto da série:
Podes também estar interessado nos meus vídeos How Not to Die from Kidney Disease e How to Prevent Kidney Stones with Diet.

É necessário ter rins a funcionar para te manteres equilibrado. O problema para a maior parte das pessoas é que não obtêm potássio suficiente, o que discuto no meu vídeo 98% of American Diets Potassium Deficient, mas demasiado fósforo no sangue pode também ser um problema. Assim os aditivos de fosfato são também algo que devemos evitar. Para mais sobre isto, vê:


Com saúde
Michael Greger, M.D.

PS: Se ainda não o fez, pode subscrever os meus vídeos gratuitos aqui e ver a última apresentação de final de ano:
Artigo traduzido por João Madureira. Lê o livro do Dr. Greger, "Como Não Morrer" (PT) ou "Comer Para Não Morrer" (BR). Em Portugal está também disponível um livro de receitas, também chamado "Como Não Morrer"

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