Como melhorar a função arterial
Escrito originalmente pelo Dr. Michael Greger M.D. FACLM a
30 de Outubro de 2018. Publicado originalmente aqui. Traduzido e adaptado por João Madureira.
A disfunção endotelial constitui o passo inicial no desenvolvimento da doença
arterial periférica, doença cardíaca, e acidente vascular cerebral. Como discuto
no meu vídeo Alimentação à Base de Plantas e a Função Arterial, a descoberta
notável é que a disfunção endotelial progressiva — o declínio do funcionamento
das nossas artérias — não é uma consequência inevitável de envelhecer. Podemos
manter a função arterial que apresentávamos quando tínhamos 20 anos, até quando
tivermos 60 anos, como os idosos chineses no meu vídeo Chá e Função Arterial.
Isto pode em parte dever-se ao consumo de chá verde, mas também a “outras
importantes diferenças alimentares relacionadas com o consumo de vegetais e de
peixe, e com o menor consumo de carne e lacticínios na alimentação tradicional
chinesa, que podem contribuir para a proteção observada nas artérias de
chineses idosos.”
Provavelmente não se deve ao peixe. Reunindo todos os melhores estudos duplo-cegos
e controlados por placebo, verifica-se que a suplementação com óleo de peixe não tem
efeito significativo na função arterial. No que é de longe o maior estudo feito
até à data, a comparação de doses de óleo de peixe equivalentes a 1, 2, ou 3
porções de peixe por semana não encontrou
efeitos destes ácidos gordos de cadeia longa ómega-3. Isto é consistente também
com estudos que examinaram o consumo de peixe ao natural, não processado.
Em geral, não houve uma associação significativa entre ingestão de peixe e
a função endotelial. De facto, as mulheres que comiam
mais peixe tinham pior função arterial. As mulheres que comiam peixe mais que 2
vezes por semana tinham uma função endotelial significativamente comprometida comparada
com aquelas que nunca ou muito raramente comiam peixe.
Portanto, se não é o peixe, poderá ser
as plantas? A alimentação vegetariana parece
ter um efeito benéfico directo na função endotelial. De facto, as artérias dos
vegetarianos dilatam 4 vezes melhor do que as artérias dos omnívoros. Mas será
isso devido aos vegetarianos tenderem a fumar menos? Passados 5 minutos de
fumar
um único cigarro, o nosso endotélio fica muito afectado, e isto acontece quer
sejamos fumadores ou apenas inalemos fumo passivo. Mas o estudo alimentar excluiu
completamente todos os fumadores. Os efeitos benéficos foram observados
independentemente de factores de risco não-alimentares. De facto, uma dieta
saudável pode até minimizar os efeitos do tabaco. A preservação da função
endotelial em chineses idosos pode explicar
porque têm taxas tão baixas de ataques de coração apesar da sua alta
prevalência de tabagismo. E a função arterial melhorada estava bem correlacionada
com a duração do seu consumo alimentar de plantas: quanto mais tempo comiam de
forma saudável, mais saudável parecia ser a sua função endotelial.
No entanto, isto foi um estudo transversal, um instante no tempo, portanto
não se pode provar causa-e-efeito. O que precisamos é de um estudo interventivo
— colocar pessoas numa alimentação à base de plantas e ver se a sua função
arterial melhora — o que foi exactamente o que o Dr. Ornish fez, mostrando
um aumento significativo na função arterial comparada com a do controlo.
No entanto, será isto apenas algum resultado intangível de um teste, ou
terá implicação no mundo real? Será que as suas artérias se dilatam de uma forma
tão melhorada que a sua dor no peito na realidade melhora?
Ornish mostrou que no seu programa de estilo de vida e alimentação à
base de plantas, os pacientes cardíacos tinham uma redução de 91% nos ataques
de angina (dor de peito). Em contraste, os pacientes do grupo de controlo, que foram
instruídos para, em vez disso, seguirem os conselhos de alimentação e de estilo
de vida dos seus próprios médicos, tiveram um aumento de 186% nos ataques de
angina. Esta “redução marcada na frequência, severidade, e duração da angina
com a intervenção de estilo de vida baseada em plantas… manteve-se em níveis
semelhantes após 5 anos. Esta redução a longo termo da angina é comparável com
a que se atinge realizando cirurgia de bypass das artérias coronárias ou
angioplastia”, mas sem um bisturi.
Mas isso foi em 1990, quando Ornish apenas estudava umas poucas dúzias de
pacientes de cada vez. Que tal 1000 pacientes colocados
num estilo de vida saudável, com uma alimentação baseada em vegetais integrais
e não-processados? Em três meses, cerca de ¾ dos pacientes com angina ficaram
livres de angina.
(legendas dos filmes disponíveis nas opções do vídeo - símbolo da roda dentada ou dos três pontinhos.)
Espera um segundo. O programa Ornish envolve várias outras intervenções de
estilo de vida, como o exercício. Como sabemos que foi a alimentação? É precisamente
o tópico do meu vídeo Tratamento à Base de Plantas para a Angina.
O que aconteceria se, em vez de seguirem uma dieta baseada em plantas, seguissem
uma dieta low-carb? Não queiras saber. Mas se queres realmente, vê Dietas Low-Carb e Fluidez do Sangue nas Coronárias.
Para saberes mais sobre o chá verde vê Chá e Função
Arterial.
Que efeitos podem ter outros alimentos? Vê:
- Ovos e a Função Arterial
- Nozes e a Função Arterial
- Chocolate Negro e a Função Arterial
- Café e a Função Arterial
- Refeições com Gordura Podem Comprometer a Função
Arterial
- Azeite e a Função Arterial
- Sódio e a Função Arterial: As-sal-to ao nosso Endotélio
- Vinagre e a Função Arterial
- Chá e Função Arterial
E não percas o meu vídeo de introdução:
(legendas em português disponíveis nas opções do filme)
Com saúde
Michael Greger, M.D.
Michael Greger, M.D.
PS: Se ainda não o fez, pode subscrever os meus vídeos gratuitos aqui e ver a última apresentação de final de ano:
- 2016: Como Não Morrer: O Papel da Alimentação na Prevenção, Paragem, e Reversão das Nossas 15 Doenças Mais Mortais. (legendas disponíveis nas opções do filme)
Artigo traduzido por João Madureira. Lê o livro do Dr. Greger, "Como Não Morrer" (PT) ou "Comer Para Não Morrer" (BR). Em Portugal está também disponível um livro de receitas, também chamado "Como Não Morrer"
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