Ser feliz é mais saudável?


Escrito originalmente pelo Dr. Michael Greger M.D. FACLM em 28 de Agosto de 2018. Publicado originalmente aquiTraduzido por João Madureira. 


Há mais de 60 anos, a Organização Mundial da Saúde definiu a saúde como “um estado de completo bem-estar físico, mental, e social, e não apenas a ausência de doença ou enfermidade”. Só porque não estamos deprimidos não significa necessariamente que sejamos felizes. Mas se examinarmos a literatura médica, há 20 vezes mais estudos publicados sobre “saúde e depressão” do que sobre “saúde e felicidade”. No entanto, em anos recentes, a pesquisa sobre a psicologia positiva emergiu, e agora perguntamo-nos o que podemos fazer para aumentar o nosso sucesso, funcionalidade, e felicidade. Apesar de tudo isto ser inerentemente bom por si só, o que dizer sobre a pergunta que abordo no meu vídeo Are Happier People Actually Healthier? (as pessoas mais felizes são mesmo mais saudáveis?)

“Há uma crescente evidência de que o bem-estar psicológico positivo está associado com risco reduzido de doença física”, mas não é surpreendente que as pessoas saudáveis se apresentem mais felizes do que as doentes. “A questão intrigante é se o bem-estar psicológico protege contra doença futura ou inibe a progressão de doença crónica”. Para se conseguir perceber o que causa o quê, seria necessário mais do que um mero “instantâneo” do tempo. É preciso um estudo prospectivo, ou seja um estudo que se prolongue no tempo, para ver se as pessoas que começam por ser mais saudáveis, conseguem, de facto, viver mais tempo. Uma revisão desses estudos na realidade “sugere que o bem-estar psicológico tem um efeito favorável na sobrevivência, tanto em populações saudáveis, como em populações com doença”.

Mas não avancemos tão rápido.

Sim, os estados positivos podem estar associados a menos stress, menos inflamação, e mais resiliência à infeção. Mas o bem-estar positivo também pode ser acompanhado de um estilo de vida, que por si próprio reduza o risco de doença. As pessoas felizes tendem a fumar menos, exercitarem-se mais, beberem menos álcool, e dormirem melhor. Ou seja, talvez a felicidade conduza à saúde apenas indiretamente. No entanto, o aparente efeito protector do bem-estar psicológico persiste mesmo depois de um ajuste estatístico desses comportamentos saudáveis. Isto significa que, comparados com pessoas com o mesmo nível de tabagismo, alcoolismo, exercício, e repouso, as pessoas mais felizes ainda assim parecem viver mais tempo.

Idealmente, para estabelecer definitivamente causa-e-efeito, precisaríamos de um estudo interventivo, em que os participantes fossem aleatoriamente distribuídos para diferentes níveis de felicidade, e se seguisse os seus resultados de saúde. É raramente possível ou ético tornar aleatoriamente a vida de algumas pessoas horrível e ver o que acontece, mas se pagarmos o suficiente às pessoas podemos realizar estudos como este cujo objectivo era:   “tem sido colocada a hipótese de que as pessoas que normalmente sentem emoções negativas têm maior risco de doença, e as pessoas que normalmente relatam emoções positivas estão em menor risco.” Os pesquisadores testaram esta hipótese usando o vírus da constipação vulgar. 334 voluntários saudáveis foram avaliados em relação a quão felizes, satisfeitos, e relaxados eram, ou a quão ansiosos, hostis ou deprimidos. Depois, receberam pingos no nariz contendo rhinovirus para ver quem seria mais propenso a desenvolver a constipação. Que pessoas deixariam que se gotejasse vírus nos seus narizes? Pessoas que receberam 800 dólares, claro.

Ora, só porque alguém fica exposto a um vírus não significa que automaticamente fica doente. Temos um sistema imunitário que pode lutar contra a infeção, mesmo que o vírus tenha sido gotejado nos nossos narizes. Mas que grupo apresentava um sistema imunitário que lutasse melhor contra a infeção?

Em 1/3 das pessoas deprimidas, o seu sistema imunitário falhou na luta e contraíram uma constipação. Mas apenas 1/5 das pessoas no grupo feliz ficou constipada. Seria porque os do grupo das emoções positivas dormiam melhor, exercitavam-se mais, ou tinham menos stress? Não. Parece que mesmo depois de um controlo estatístico, comparadas com pessoas com idênticas práticas saudáveis e níveis de hormonas de stress, as pessoas mais felizes pareciam ter sistemas imunitários mais saudáveis e uma maior resistência a desenvolver a constipação vulgar.

Também funciona com a gripe. Quando se repetiu o estudo com o vírus da gripe, as emoções positivas foram associados com taxas de doença diminuídas, tal como no estudo anterior sobre a constipação. Estes resultados mostram que sentirmo-nos vigorosos, calmos e felizes, pode ter um papel mais importante na saúde do que previamente se pensou.


OK, se a felicidade promove a saúde, como podemos promover a felicidade? É o assunto do meu vídeo Which Foods Increase Happiness?.

Sou tão culpado como o resto dos meus colegas por me focar na doença mental em vez da saúde mental (embora o meu vídeo Laughter as Medicine seja uma rara excepção). É uma consequência do que há na literatura média, mas eu farei um esforço especial de mostrar novos estudos na área quando forem publicados. No entanto, tenho uma séria de vídeos sobre a prevenção e o tratamento de estados de humor negativos, tais como a depressão e a ansiedade:

Interessado noutras formas de melhorar a imunidade? Vê: Using the Produce Aisle to Boost Immunity.

Com saúde,

Michael Greger, M.D.


PS: Se ainda não o fez, pode subscrever os meus vídeos gratuitos aqui e ver a última apresentação de final de ano:
Artigo traduzido por João Madureira. Lê o livro do Dr. Greger, "Como Não Morrer" (PT) ou "Comer Para Não Morrer" (BR). Em Portugal está também disponível um livro de receitas, também chamado "Como Não Morrer"

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