Como Não Morrer de Hipertensão
Escrito originalmente por Dr. Michael Greger M.D. FACLM em 22 de Agosto de 2018. Publicado originalmente aqui. Traduzido por João Madureira.
A pressão arterial
alta é o principal factor de risco para a saúde, no mundo. Nos Estados Unidos, afecta quase 78 milhões de
pessoas, um em cada três adultos. À medida que a população envelhece, a pressão
arterial fica cada vez mais alta, de modo que ao chegarmos à idade de 60 anos,
a hipertensão atinge metade da população.
Dado que afecta a
maior parte de nós quando envelhecemos, será que a hipertensão não é uma doença
mas sim uma consequência inevitável de envelhecer? Não. Sabemos desde os anos
1920 que a hipertensão não é inevitável, o que discuto no meu vídeo How Not to Die from High Blood Pressure.
Os pesquisadores mediram a pressão arterial de 1000 pessoas no
Quénia rural, cuja alimentação tradicional incluía cereais integrais, feijões, hortaliças,
fruta, e verduras escuras. Apesar de as nossas pressões subirem à
medida que envelhecemos, as pressões deles na realidade diminuem.
Na pressão arterial,
quanto mais baixo, melhor. O limite 140/90, de que podes ter ouvido falar, é
arbitrário. Mesmo pessoas com pressões arteriais de 120/80 parecem beneficiar de uma
redução da pressão arterial. O seu médico dar-lhe-ia provavelmente uma estrela
dourada se tivesse uma pressão arterial de 120/80, mas a pesquisa indica que a pressão
arterial ideal — a pressão arterial para a qual não há benefício em baixar mais
— pode ser na realidade 110/70.
Será mesmo possível
ter uma pressão arterial tão baixa quanto 110/70? Não só é possível— é normal
para quem tem uma vida suficientemente saudável.
Ao longo de dois anos,
1.800 pacientes foram admitidos num hospital rural do Quénia. Quantos casos de
tensão arterial alta tinham? Zero. Uau, deviam ter taxas muito baixas de doença
cardíaca. Não, na realidade não tinham sequer qualquer taxa de doença cardíaca.
Nem um único caso de arterioesclerose, a doença que é o nosso principal
assassino. Na China rural, o mesmo. Lá, as pessoas permanecem com 110/70 durante toda a vida —
pessoas de 70 anos com a mesma pressão arterial média de pessoas de 16 anos.
Os que viviam na Ásia
e na África alimentavam-se de forma bastante diferente, mas partilhavam algo:
ambos comiam maioritariamente plantas no dia-a-dia, com a carne consumida
apenas em ocasiões especiais. Por que razão achamos que é o facto de se
basearem em plantas que é tão protector? No mundo ocidental, como a Associação
Americana do Coração apontou, a única população com pressões arteriais assim tão baixas são as pessoas que
ingerem apenas plantas, apresentando valores próximos de 110/65.
O maior estudo até à
data de pessoas com alimentações de base vegetal estudou 89.000 californianos.
Os não vegetarianos foram comparados com os semi-vegetarianos (ou
flexitarianos, aqueles que comem carne mais numa base semanal do que diária), pesco-vegetarianos
(que não comem carne mas comem peixe), lacto-ovo vegetarianos (aqueles que não
comem carne ou peixe), e os veganos (que não comem carne ou peixe, ovos, ou
lacticínios).
As pessoas eram
Adventistas do Sétimo Dia, que tendem a comer muita fruta e vegetais,
exercitarem-se, e não fumarem, e mesmo os não-vegetarianos não comiam muita
carne. Mesmo comparados com esses omnívoros relativamente saudáveis, pareceu
haver uma queda gradual nas taxas de hipertensão à medida que a alimentação das
pessoas era mais vegetal. Os veganos tinham taxas mais baixas que os lacto-ovo
vegetarianos, que tinham taxas mais baixas que os pesco-vegetarianos, e por aí
em diante — e os pesquisadores encontraram o mesmo resultado para a diabetes e
a obesidade.
Portanto, sim: podemos
eliminar a maior parte do risco com uma dieta estritamente baseada em plantas,
mas não é tudo-ou-nada. Não é preto e branco. Qualquer movimento que façamos no
sentido de comer de forma mais saudável pode resultar em benefícios
significativos para a saúde.
Isto pode ser (e tem
sido) mostrado experimentalmente: Se se der carne a vegetarianos (pagando-lhes
para a consumir), então a sua pressão arterial sobe. Noutro estudo, a
carne foi removida da alimentação das pessoas, e a sua
pressão arterial baixou — o que aconteceu em apenas sete dias. Para além do
mais, as pessoas reduziram ou acabaram mesmo com os seus remédios para a tensão
alta. De facto, as pessoas pararam as suas medicações, pois uma vez tratada a
causa, deve-se deixar de ingerir múltiplos remédios para a tensão alta, porque
a tensão pode cair muito e as pessoas podem ficar tontas, cair, e magoar-se;
portanto o médico tem de retirar esses medicamentos. Pressões mais baixas com
menos fármacos — esse é o poder das plantas.
Portanto, será que a
Associação Americana do Coração recomenda uma alimentação sem carne? Não, recomenda uma dieta baixa em carne, conhecida como DASH. Por
que razão a Associação Americana do Coração não recomenda uma alimentação
inteiramente vegetal? Será que, na altura em que a dieta DASH foi concebida,
não estavam cientes da pesquisa marcante de Franck Sacks de Harvard, que
mostrava que as pessoas que se alimentavam estritamente de plantas têm uma
média de 110/65? Não, tinham de facto conhecimento. O próprio presidente do Comitê
que projectou a dieta DASH foi o Franck Sacks.
A dieta DASH foi
desenhada explicitamente com o objectivo principal de obter “os benefícios de
redução da tensão de uma dieta vegetariana, e no entanto conter produtos de
origem animal suficientes para tornar a dieta agradável ao palato” para a
população em geral. Acharam que o público não ia aceitar a verdade tal como ela
era.
Podemos dizer em sua
defesa que, tal como um medicamento não funciona se não os tomarmos, as dietas
não funcionam se não forem seguidas. Portanto, eles devem ter pensado que
poucas pessoas iriam comer apenas plantas, e ao suavizarem a mensagem, chegaram
a um compromisso dietético que talvez numa escala populacional seja mais
benéfico. Está bem, mas digam isso às milhares de famílias americanas
que todos os dias perdem um ente querido devido à hipertensão.
Talvez seja a altura
de começar a dizer a verdade ao público americano.
A primeira vez que
alguém visita o site NutritionFacts.org pode ficar confuso.
Com vídeos sobre mais de 2.000 tópicos de saúde, por onde se começa? Imagine
descobrir o site e ver o vídeo desse dia sobre uma especiaria em particular e o
seu efeito numa forma de artrite. Seria fácil “perder a floresta por causa de
uma árvore”, e é precisamente por isso que criei uma série de vídeos de revisão
que são retirados da minha apresentação de uma hora, em 2016: How
Not to Die: Preventing, Arresting, and Reversing Our Top 15 Killers.
Com saúde,
Michael Greger, M.D.
(o vídeo tem legendas em português disponíveis nas opções do vídeo
- no símbolo da roda dentada ou dos três pontinhos)
Vê também:
PS: Se ainda não o fez, pode subscrever os meus vídeos gratuitos aqui e ver a última apresentação de final de ano (legendas disponíveis nas opções do filme)
Traduzido por João Madureira. Lê o livro do Dr. Greger, "Como Não Morrer" (PT) ou "Comer Para Não Morrer" (BR), ou o livro de receitas.
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