Como Não Morrer de Cancro

Escrito originalmente por Michael Greger M.D. FACLM em 10 de Agosto de 2018. Publicado originalmente aquiTraduzido por João Madureira. 
Depois de o Dr. Dean Ornish ter conquistado a nossa doença mais mortal, a doença cardíaca, ele passou para a doença mortal nº2. O que acontece quando o cancro enfrenta uma alimentação à base de plantas? Ornish e os colegas descobriram que a progressão do cancro da próstata podia ser revertida com uma dieta à base de plantas e outros comportamentos saudáveis.
Se se gotejar o sangue de pessoas que ingerem a “dieta americana padrão” em cima de células cancerosas a crescer numa placa de Petri, o crescimento do cancro é retardado cerca de 9%. E se tiverem seguido uma dieta baseada em plantas durante um ano? O seu sangue corta o crescimento do cancro em cerca de 70%. De facto, o sangue que circula nos corpos daqueles que seguem dietas baseadas em plantas tem uma capacidade cerca de 8 vezes superior de suprimir o crescimento de células cancerosas.
Mais concretamente, isto aconteceu com células de cancro da próstata, o cancro mais mortal específico dos homens. Nas mulheres, o cancro da mama é o cancro mais mortal para as jovens mulheres. Os pesquisados quiseram repetir o estudo nas mulheres usando células de cancro da mama, mas não quiseram esperar um ano inteiro para ter as respostas. Então pensaram que iriam examinar o que uma dieta à base de plantas podia fazer após apenas 2 semanas, contra três tipos diferentes de cancro da mama humano.
Como podem ver no meu vídeo em baixo, o estudo mostrou que o crescimento do cancro, que começou nos 100%, diminui depois de as pacientes seguirem uma dieta à base de plantas durante 14 dias. Foi colocada uma camada de células de cancro da mama numa placa de Petri, e depois foi gotejado, por cima, sangue de mulheres que seguiam “dietas americanas padrão”. Como podem ver no meu vídeo, mesmo o sangue das mulheres com dietas bastante pobres possuem alguma capacidade de destruir o cancro. No entanto, após apenas 2 semanas de alimentação saudável, o sangue recolhido dessas mulheres —que funcionaram como as suas próprias testemunhas— foi gotejado em cima de uma nova camada de células de cancro da mama. Podes ver por ti próprio(a) que apenas umas poucas células cancerígenas permaneceram. Os corpos “limparam-se”. Após apenas 14 dias de uma dieta à base de plantas, o seu sangue tornou-se assim muito mais hostil ao cancro.
Travar o crescimento de células cancerígenas é bom, mas livrares-te completamente delas é ainda melhor. Isto é o que se chama apoptose, ou morte celular programada. Depois de se alimentarem de forma saudável, os próprios corpos das mulheres foram capazes de reprogramar as células cancerígenas, forçando-as a “reformarem-se mais cedo”.
No meu vídeo, podes ver o que se chama imagiologia TUNEL, que permite aos investigadores medir a fragmentação do ADN, ou a morte celular. Nesta tecnologia, as células cancerígenas moribundas aparecem como pequenos pontos brancos. Desde o início do estudo, podemos ver um pequeno ponto branco na parte superior esquerda da imagem, que mostra que o sangue de uma mulher média que ingira a “alimentação americana padrão” pode mesmo assim matar algumas células do cancro da mama. No entanto, após 14 dias de vida saudável, alimentando-se à base de plantas, o seu sangue conseguiu transformar esse único ponto branco numa multidão de pontos brancos. É como se fosse uma mulher completamente nova por dentro! De facto, o mesmo sangue que agora atravessa os corpos destas mulheres passou a poder atrasar significativamente e até parar o crescimento de células de cancro da mama, apenas 2 semanas depois de comer uma dieta baseada em plantas.
Que tipo de sangue queremos no nosso corpo? Que tipo de sistema imunitário? Queremos sangue que se vire de patas para cima como um cachorro quando aparecem novas células cancerígenas, ou queremos sangue a circular por todos os lugares recônditos do corpo com o poder de as atrasar ou parar?
O aumento drástico das defesas contra o cancro evidenciado no estudo ocorreu depois de 14 dias de uma dieta à base de plantas — e de exercício. No estudo havia esses dois factores. As mulheres andavam 30 a 60 minutos por dia. Como há estes dois factores, como sabemos que parte do resultado se deve à alimentação? Os pesquisadores decidiram tentar perceber.
No meu video, podes ver um gráfico que mostra em primeiro lugar o sangue de pessoas que se alimentavam à base de plantas e que tinham uma rotina de exercício moderado, tal como andar todos os dias, durante uma média de 14 anos, que evidenciavam uma eliminação significativa de células cancerígenas. Os pesquisadores compararam depois esse grande poder anti-cancro com o de um americano sedentário médio, que como podemos ver é basicamente inexistente.
Analisaram também um terceiro grupo. Em vez de 14 anos numa alimentação à base de plantas, passaram 14 anos na “dieta americana padrão”, mas também fizeram exercícios vigorosos diários de uma hora, como ginástica. Queria-se saber se o exercício suficientemente duro e vigoroso conseguiria rivalizar com alguns vegetarianos que apenas passeavam.
A resposta? Não há dúvidas que o exercício ajudou, mas literalmente 5.000 horas no ginásio não conseguiu igualar a dieta baseada em plantas.
Utilizando mais uma vez a imagiologia TUNEL para analisar a morte das células cancerígenas, os pesquisadores descobriram que mesmo que alguém seja completamente sedentário, comendo batatas fritas, o corpo tem algumas defesas. O sangue tem alguma capacidade de matar células cancerígenas, que no meu vídeo podem ser vistas como alguns pequenos pontos brancos na primeira imagem dessa série. Se nos exercitarmos 5.000 horas, podemos matar muitas mais células de cancro, evidenciadas pelos pontos brancos muito mais numerosos nessa imagem. Mas nada parece dar uma tareia tão grande no cancro do que uma alimentação à base de plantas, já que essa imagem está cheia de pontos brancos indicando células cancerígenas mortas.
Porque é isto assim? Pensamos que seja porque as proteínas animais, tais como as proteínas da carne, claras de ovo, e dos lacticínios, aumentam o nível do factor de crescimento semelhante à insulina-1 (IGF-1), uma hormona promotora do cancro, que está envolvida na “aquisição ou progresso de tumores malignos”.
No meu vídeo, podes ver os resultados de um estudo que determinou que o IGF-1 era o responsável. Tal como nos estudos anteriores, as pessoas passaram a uma alimentação à base de plantas e o crescimento das células cancerígenas diminuiu, enquanto que a morte de células cancerígenas subiu. No entanto, este estudo tinha uma surpresa: adicionou ao cancro a mesma quantidade de IGF-1 que tinha sido retirada do corpo como resultado de comer e viver de forma mais saudável. Como resultado, eliminou o efeito “alimentação e exercício”. É como se as pessoas nunca tivessem começado a comer de forma mais saudável, com um retorno das taxas de crescimento celular e de mortes celulares, para níveis antes da intervenção baseada em plantas.
A razão pela qual um dos maiores estudos prospectivos sobre alimentação e cancro verificou que “a incidência de todos os cancros combinados é menor entre os vegetarianos do que entre os que comem carne”, poderá ser porque comem menos proteína animal, e assim acabam com menos IGF-1, o que significa menor crescimento do cancro.
Quanto menos crescimento de cancros? Um estudo descobriu que homens e mulheres de meia-idade com altas ingestões de proteína tinham um aumento de 75% na mortalidade por todas as causas e um aumento de 4 vezes no risco de morrer especificamente por cancro. Será que a fonte da proteína é importante? Sim. Ocorreu especificamente com proteína animal, o que faz sentido dados os seus níveis mais altos de IGF-1.
A instituição académica onde o estudo foi realizado lançou um comunicado de imprensa com um cabeçalho memorável: “Essa asa de frango que está a comer poderá ser tão mortal como um cigarro”. Continuou, explicando que “comer uma dieta rica em proteínas animais durante a meia-idade fá-lo ser 4 vezes mais propenso a morrer de cancro…—um aumento da mortalidade comparável ao tabagismo.”
Qual foi a resposta à revelação que as dietas ricas em carne, ovos e lacticínios podem ser tão prejudiciais à saúde como fumar? Um cientista respondeu que era “potencialmente perigoso comparar os efeitos do tabaco com o efeito da carne e queijo”, mas porquê? Porque, na sua argumentação, “o fumador pensa para quê importar-me com deixar de fumar se a minha sanduíche de queijo e presunto me faz também mal?”
Isto lembra-me de um famoso anúncio aos cigarros Philip Morris que tentava desacreditar os riscos do fumo passivo. O anúncio incluía uma tabela com “actividades do dia-a-dia” e “risco relativo relatado”, numa tentativa de dizer que o fumo passivo não era assim tão mau. A tabela mostrava que o fumo passivo aumentava o risco de cancro do pulmão em 19%, mas que beber um ou dois copos de leite por dia pode ser 3 vezes pior, com um risco 62% superior de cancro dos pulmões. O risco de cancro do pulmão poderá duplicar se cozinharmos frequentemente com óleo, e o risco de doença cardíaca pode triplicar se comermos não-vegetariano ou multiplicado por seis vezes ingerindo muita carne e lacticínios. A conclusão da Philip Morrs? “Fumo passivo de tabaco. Mantenhamos alguma perspectiva”. O “risco de cancro do pulmão a partir de fumo passivo de tabaco foi colocado bem abaixo do risco reportado por outros estudos para muitas actividades e objectos do dia-a-dia.”
Isso é como dizer, “não te preocupes com ser esfaqueado, porque ser alvejado é muito pior”. Duas coisas erradas não fazem uma certa.
Claro que a Philip Morris deixou de criticar os lacticínios depois de ter comprado a Kraft Foods…
Com saúde,

Michael Greger, M.D.


(o vídeo tem legendas em português disponíveis nas opções do vídeo
- no símbolo da roda dentada ou dos três pontinhos)

Vê também:



PS: Se ainda não o fez, pode subscrever os meus vídeos gratuitos aqui e ver a última apresentação de final de ano (legendas disponíveis nas opções do filme)

Traduzido por João Madureira. Lê o livro do Dr. Greger, "Como Não Morrer" (PT) ou "Comer Para Não Morrer" (BR), ou o livro de receitas.

Conhece os 12 alimentos a consumir diariamente ou segue-nos e fala connosco na nossa página do Facebook

Comentários

Mensagens populares deste blogue

A Dúzia Diária

O Arroz Preto e o Vermelho são melhores que o Arroz Castanho (“integral”), que por sua vez é mais Saudável que o Arroz Branco

A Resposta a um Mistério do Cancro Colorretal